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Metallum

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:40 pm

Selena se equilibrava na prancha de metal, ela deslizava sobre o trilho de aço, a uma velocidade superior a 100 km/h. O trilho era preso aos prédios de concreto na altura do décimo andar, aquele era um dos diversos trilhos que se estendia pela cidade velha, uma gigantesca ruína da época em que o homem inteligente dominava o mundo.
Arya e Ana deslizavam em trilhos paralelos. As duas eram irmãs gêmeas, tinham longos cabelos louros e cerca de 1,65m.Arya saltou do trilho e aterrissou no terraço no décimo primeiro andar de um prédio que deveria ter o dobro da altura quando foi construído. Ela acenou chamando-a.
Selena impulsionou a prancha que subiu com uma guinada, havia um cano retorcido que corria perto da parede do prédio,ela controlou a prancha para deslizar por ele até frear ao lado da amiga. Ana pousou alguns segundos depois.
– O que foi? – perguntou ela
– Aquilo – Arya apontou.
No topo de um edifício, a dois prédios de distancia, um vulto as observava. Tinha cabelos curtos e estava sentado, imóvel, olhando para elas.
– Deve ser só uma estátua – disse Selene e então a cabeça se mexeu. Ela gritou, assustada.
– Será que é… um humano? – falou Ana, ela também estava assustada.
– Nenhum humano conseguiu fugir até aqui. – contestou a irmã.
– Talvez seja uma selvagem.
– As selvagens foram extintos a mais de dois seculos.
– Talvez nem todos – disse Selene finalmente recuperando a fala.
O selvagem se levantou e entrou no prédio, ignorando-as. Arya arremessou a prancha em um cano próximo e pulou em cima dela. Com maestria ela se equilibrou enquanto deslizava pelo cano até o outro predio.
– Vamos lá. Aquele pode ser o último humano selvagem vivo. Quero ver ele de perto.
Selene e Ana estavam juntas ainda no mesmo prédio.
– Vamos, é só um humano,o que ele pode fazer? Babar? Quero ver o humano no ambiente natural. Venham logo.
As duas estavam receosas, mas, mesmo assim, seguiram a garota. Elas andaram por entre os prédios,o edifício que viram o humano estava a vinte metros de distancia. Não havia nada de metal naquela área o que forçou as garotas a descer até o chão. Elas caminharam por entre as arvores, um cachorro uivou a distancia. Encontraram a entrada do edifício escondida entre as árvores.
Elas exploraram os primeiros andares do prédio, abandonados como qualquer coisa naquele canto da cidade, alguns macacos andavam pelas trepadeiras que reclamaram a estrutura de concreto para si. Selena subiu um andar, abriu uma porta que caiu, as dobradiças tinham enferrujado a muito tempo. Araras voaram, assustadas com o barulho. Ela se sentia como se estivesse sendo observada,virou rapidamente,um vulto subia uma escada do outro lado prédio. Selena gritou.
Ana e Arya se juntaram a ela quase que imediatamente
– Ali – ela apontou – Ele subiu aquela escada.
– Pra que tanto medo. É só um humano,não morde, não muito pelo menos. Nada que uns bons tiros de bala de chumbo não resolvam. – Arya falou enquanto assumia a liderança.
A escada de concreto estava pichada com uma seta preta apontando pra cima,ela nunca tina visto uma pichação como aquela, parecia tão…nova.
Na parede enfrente a escada havia uma sequencia de letras pichadas que formavam RAMONES.
– O que é isso? – Perguntou Ana
– Não sei, mas parece que ele sabe escrever. – respondeu Selena
– Chama isso de escrever? Que diabo é Ramones? – falou Arya enquanto começava a explorar o andar.
No final do corredor,ele estava de pé. Era uma criatura magra, tinha em torno de 1,8m.Cabelos curtos e castanhos. Segurava alguma coisa com a mão direita, um grande pedaço de madeira,que tinha quase a altura dele, curvado com uma corda que juntava duas pontas.
A criatura esmurrou a parede a sua esquerda,uma musica rapida com instrumentos que ela nunca tinha ouvido começo a tocar. Enquanto o selvagem jogava o corpo para esquerda.
– Ei! Onde você vai? – Arya correu atrás dele, seguida da irmã e Selene por último.
Elas chegaram a alcançara Arya que encarava o homem acuado no fanal de corredor, a trinta metros de distancia. O pedaço de madeira estava na mão esquerda agora. Ele também segurava um pedaço de madeira menor,com duas penas azuis de um lado e uma ponta na outra.
A musica terminou,uma outra diferente começou a tocar, mais agressiva, parecia que vinha de todo lugar. Arya deu um passo em direção ao homem, pequenas balas de chumbo flutuavam acima da mão dela.
Então aconteceu.
O selvagem encaixou o pedaço pequeno de madeira na corda e puxou muito rápido,quando ele soltou o projeto veio zunindo em direção a elas,passou do lado de Arya e se alastrou no ombro de Ana,que gritou. O homem sorriu
– O que você fez com a minha irmã. Vai pagar por isso!
Mas o selvagem correu para uma sala a direita. Arya o seguiu. Selena ficou ali,parada, segurando sua amiga ferida. A musica era agressiva, teve a impressão de reconhecer uma ou duas palavras,mas aqueles instrumentos eram muito barulhentos, era muito rápido. Alguma coisa voltou a ser balbuciada com o barulho. Ela ouviu o grito junto com a musica,eram as mesmas palavras se é que aquilo eram palavras.
– Arya? – Ela perguntou, sentada, a cabeça de Ana estava apoiada nas suas pernas,ela já estava quase inconsciente.
Olhou ao redor, agora ela via,aquele lugar não estava tão abandonado quanto ela teve impressão. Ela olhou para um espelho quadrado apoiado na lateral de uma parede.
Ela via seus olhos castanhos,cabelos castanhos,seu rosto  apavorado e o da amiga em eu colo. Porque atrás dela estava um vulto. O golpe foi fulminante, a dor veio instantaneamente. Sua cabeça caia pra frente enquanto o mundo a sua volta desaparecia.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:41 pm

– Rato chamando toca, Alguém na escuta?
    – Positivo, Sagui na escuta.
    – Há quanto tempo Sagui, capturei três hoje, preciso de alguém pra transportá-las para toca.
    – Você foi visto? Sua posição esta comprometida?
    – Não, só eram essas três, elas me seguiram e eu as capturei,duas estão inconscientes agora, uma está me encarando. – falou Rato com o aparelho na orelha enquanto encarava a morena, ela estava apavorada. – Elas não tem a mínima noção do que estamos falando, não conhecem latim.
    – Vou mandar o Guaxinim e o Tatu quando eles voltarem, eles devem chegar ai em três dias, você aguenta?
    – Poderia demorar até mais, é tranquilo, espero por eles. Rato desligando.
    Rato colocou o aparelho em cima de uma mesinha de madeira podre. Ele olhava a garota, ela estava com as mãos e s pés atados amarrada em um dos pés de uma grande mesa de jantar,que já estava bem deteriorada mas parecia o suficiente forte para aguentar. As outras duas garotas também estavam amarrada de forma semelhante a dois outros pés da mesa.
    – Surpresa? – perguntou ele na língua delas, uma língua baseada no inglês.
    – Você fala a minha língua? – ela perguntou, o medo e a curiosidade se alternavam nos olhos delas.
    – Um pouco, como você já percebeu. Agora me diga, o que eu vou fazer com você? – Ele perguntou fingindo tirar sujeira debaixo das unhas com uma faca de chifre de rinoceronte, aquilo era meramente uma tentativa de parecer mais intimidador do que ele já era.
    A garota olhava para os lados, assustada mas procurando alguma coisa. Rato sentou na frente dela, agarrou a cabeça dela forçando-a olhar nos seus olhos.
    – Não tem metal aqui, você não vai encontrar nem um mero parafuso, pode procurar, se quiser, mas eu mesmo limpei esse lugar. Agora me diga, o que acha que eu vou fazer com vocês?
    – Você vai… me matar?
    – Talvez, ainda não me decidi.
    – Por que você está fazendo isso?
    – Vocês dizimaram a minha raça, há sete seculos atrás eramos mais de sete bilhões no planeta, nós dominávamos o mundo e iriamos dominar outros planetas. E então vocês nasceram, uma mutação da própria raça humana. Vocês levaram uma civilização global a ruína, mataram mais de três bilhões de humanos e escravizaram outro bilhão. O planeta tentou se livrar de vocês mas metade da sua população resistiu a doença. Nós atacamos de novo há no seculo XXIV. Retomamos uma parte do nosso território e voltamos a viver dignamente. Vivemos quase um século em paz, ignoramos o que vocês faziam como nossos semelhantes enjaulados e vocês também nos ignoravam mas isso não durou muito e vocês voltaram a atacar. Faz quase dois seculos que vocês acreditam ter extinto os humanos livres, nós crescemos e prosperamos escondidos e a dois anos resolvemos ver como nossos semelhantes estão sendo tratados.
    Rato cuspiu na cara da garota.
    – Vocês tratam nossa raça pior do que nós tratamos nossos animais. Eu vi homens engaiolados como galinhas, eles não sabiam falar. Nossos semelhantes, não, sabiam, FALAR. Matar você não chega perto de uma compensação pelo que minha raça sofreu. Então, não me pergunte porque eu estou fazendo isso, tenho motivos suficientes.
    A garota tinha abaixado a cabeça, estava chorando em silêncio. As outras duas ainda estavam inconscientes. Ele sentia  raiva e medo, pegou o arco e aljava, ele precisava de comida  e também precisava matar alguma coisa, melhor um animal do que uma delas, por enquanto.
    Não havia nem duas semanas que estava em missão e já havia encontrado três Metallum. Subjuga-las foi mais fácil do que ele esperava,apenas uma das loiras tentou atacá-lo, teria de encontrar um jeito de continuar mantendo o controle da situação, mas isso não era nada urgente, poderia esperar o fim da caçada.
    Fechou a aljava e colocou o arco no ombro, ele poderia chegar no nível das árvores descendo as escadas, era o jeito chato. Recuou alguns passos,havia um grande rombo na parede daquele andar. Rato correu e saltou.
    Percorreu quase vinte metros enquanto caia e se agarrava nas trepadeiras do prédio a sua frente, ele estava na altura do quinto andar agora. As árvores estavam a uns dez metros abaixo dele. Desceu uns cinco metros antes de saltar novamente. O sol já havia se posto mas era noite de lua cheia de maneira que até um humano normal poderia caçar.
    Caminhou entre as arvores por quase  meia hora, tentando localizar uma presa, era difícil imaginar que a floresta onde ele estava caminhando era uma avenida de concreto e que não havia sinal de natureza nela a seis seculos atrás. O mundo mudou, as regras mudaram, os humanos se adaptaram.
    Tudo estava quieto. Rato fechou os olhos e se concentrou, poderia usar todo o seu potencial auditivo ali. Passos, um quadrupede pequeno,não deveria pesar mais que trinta quilos. Abriu os olhos, se concentrando no quase imperceptível som. Localizou as pegadas alguns minutos depois. Deixou a audição em segundo plano e seguiu as pegadas,o som começou a ficar mais alto,ele estava muito perto.
    Teve sorte, A presa era um filhote de anta, o animal deveria ter uns trinta ou trinta e cinco quilos, poderia levá-lo inteiro para a sua base. Ele estava a apenas duzentos metros de distancia. Colocou a flecha no arco,puxou e soltou. Mirar era tão automático que nem percebia.
    A flecha voou por entre as folhas e entrou pelo olho do animal,penetrou pelo menos trinta centímetros. A presa morreu sem sofrer. Rato retirou a flecha,que havia se partido, uma pena,perdeu uma boa flecha. Encaixou o arco no ombro e,com cuidado,levantou o animal e o apoiou sobre os ombros. Respirou fundo, era uma longa caminhada levando muito peso. Esperava que o animal valesse o esforço.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:43 pm

O selvagem entrou pela porta caída com um animal morto sobre os ombros, o sangue no animal escorria tingindo toda a roupa do selvagem de vermelho. Ele jogou o corpo inerte no chão.
– Assustada? – Ele perguntou e foi para outro cômodo, sem esperar a resposta.
E ela estava, estava aterrorizada, suas amigas ainda estavam inconscientes. No tempo que o selvagem estava longe ela havia tentado se libertar,sem sucesso. Não havia nenhum objeto de metal próximo, ele também tinha dito isso. Ela estava impotente, a merce daquela criatura.
Quando o homem voltou para o comodo carregava consigo uma caixa de metal,um pouco maior que o animal. Aquela poderia ser sua chance, ela olhou para a caixa,tentou um movimento sutil,não funcional,ela ainda estava fora de alcance, mas parece que o homem percebeu. Ele apontou uma coisa pontua para ela.
– Nem tente, vai ser pior pra você.
Aquelas palavras acompanhadas de um olhar gelado desencorajaram qualquer tentativa de resistência. O homem colocou a caixa no chão e a abriu, o interior dela emitia uma luz azul. Ele colocou o animal dentro dela e fechou a caixa. Depois disso ele se levantou e sentou-se ao lado dela.
– Acho que exagerei um pouco, hoje cedo. – ele falou, aquela voz grosa soava quase como branda, aquilo era estranho.
– O que é você? –  Selene perguntou, aquilo não era um humano,não era possível. Humanos era coisas idiotas que servia meramente para reprodução.
– Um humano – ele respondeu, como se aquilo fosse obvio.
– Você não pode ser humano, eu já vi alguns deles eles não tem a capazes de falar quanto mais nos prender.
– Então me diga, quantos humanos você conheceu?
– Cinco deles, levaram para a escola a sete anos atrás, os olhos eles eram diferentes, não conseguiam se prestar atenção em nada, falaram para atirarmos bolinhas de ferro neles pra ver como reagiam. Eles eram muito lerdos, burros não conseguiam reagir a nada. Nos só paramos de atirar as bolinhas quando um deles começou a chorar, e até o choro era uma coisa estranha. Era meio...
– Chega! – o selvagem falou, havia raiva contida na sua voz – Você já viu um humano, um humano normal?
– Só aqueles. Aquilo não é o normal?
– Olhe pra mim e diga se eles eram normais.
Ela não respondeu, a diferença era evidente.
– Voce viu deficientes, eles nasceram com má formação, eles deveriam ser tratados com cuidado, não exibidos como aberrações, e vocês ainda bateram neles.
“Será que o que ele está falando é verdade”. Ela pensou,  ela havia realmente batido naquelas criaturas, mesmo naquele dia ela contestou o que estavam fazendo. Disse que era como bater em um cachorrinho, mas no fim ela mesmo acabou atirando algumas balas de alumínio. Ela se sentia uma sensação estranha, arrependimento. Não sabia como descrever e não havia uma palavra para aquilo na língua dela. Era a primeira vez que sentia aquilo. Ela começou a falar, como para tentar se justificar,sem nenhuma convicção no que falava.
– Elas falaram que eles eram muito burros para sentir dor, que não tinha problema. Eu mesmo só atirei algumas balas.
Ela parou de falar, nem ela acreditava nas próprias palavras. O selvagem jogou arremessou objeto parecido com uma faca para um canto da sala. Ela ouviu o gemido de algum animal. Estava completamente escuro, e mesmo assim ele havia acertado.
– Até animais sentem dor, você não está ouvindo? – e ela ouvia os gemidos de dor, ficando cada vez mais baixos. – A diferença é que eu faço isso quando preciso, e inflijo o mínimo possível. – Os gemidos pararam. – Diferente da sua raça. – Ele se levantou. – Ta com fome?
– Sim – ela falou baixo, não havia porque negar.
– Nesse caso, acabei de matar a sua janta.
– Vou ter que comer carne? – ela perguntou, enojada. Matar um animal apenas para satisfazer uma vontade era tão, animalesco. Além disso, era proibido.
– É isso ou morrer de fome. – ele falou das sombras, enquanto trazia o animal.
Por um momento ela pensou, e seu estômago roncou afastando qualquer pensamento altruísta.
– Acho que vou ficar com a carne.
O selvagem saiu das sombras, o animal revelou ser um rato. Ele colocou o animal dentro da estranha caixa de metal e saiu do comodo, Voltou alguns minutos depois com uma espécie de panela, duas pedras e pedaços de madeira. Ele se sentou perto da porta, parecia que alguma daquelas coisas continha metal, para ele não arriscar se aproximar. Ele bateu as pedras bem perto da madeira, faíscas saltaram e uma tímida chama começou a queimar timidamente, Abriu a caixa retirou o rato e jogou-o dentro de uma vasilha que ela não havia notado. Quebrou o osso do animal que ele havia trazido mais cedo e, com um tipo de faca de lamina branca, separou a perna do resto da carcaça do animal, também colocou aquele pedaço na vasilha.
Ele começou a esfolar o cadáver do rato, ela nunca tinha visto uma coisa daquele tipo.A faca deslisava pela pele revelando a carne vermelha existente por baixo, o selvagem fazia aquilo com uma naturalidade perturbadora.
– Qual é o seu nome? – ele perguntou.
– Selene. – ela respondeu. – E você, tem um nome? – Ela se arrependeu de ter feito a pergunta quando as palavras saíram de sua boca. Aquilo foi idiota, é claro que ele tinha um nome, poderia ter perguntado de uma forma diferente. Ele encarrou ela,por um tempo. – Desculpe, não devia ter perguntado desse jeito.
– Tudo bem, pode me chamar de Rato. – disse ele com o olhar fixo no animal, que agora ele desossava. – Parece que vocês não sabe nada sobre nós, não posso te culpar por ser ignorante.
As palavras dele foram um tapa na cara, ela não era ignorante, era? Talvez fosse ela pensou com amargura.
– É,talvez eu seja. – falou baixinho, pra si mesma.
– Admitir a própria ignorância já é um passo para se tornar alguém mais esclarecido. Mesmo que seja baixo desse jeito.
Ele conseguiu ouvir, foi um murmúrio quase inaudível. E mesmo assim ele ouviu, estava concentrado, limpando a perna do animal, e mesmo assim ouviu, será que todos humanos ouviam tão bem?
– Não fique surpresa, eu tenho uma audição acima da média. – falou enquanto se levantava.
Ele saiu do cômodo de novo, quando voltou levava consigo um grande garfo bidente do mesmo material branco da faca, dois recipientes de vidro, um continha um líquido dourado, o outro, vermelho. Ele jogou um pouco do líquido dourado dentro da panela e a colocou no fogo.
– Selene – ele falou, devagar e fez uma pausa, talvez para escolher as palavras, falou olhando para ela,nos olhos. – O quanto você sobre a guerra racial e as guerras da retomada? – Ele falava sério, mas aquela pergunta era absurda. Ela pensou na pergunta, deveria ter algum outro sentido que ela não percebeu,não conseguiu pensar em nada além da própria pergunta,respondeu.
– Nossa raça nunca presenciou uma guerra.
Ele havia jogado um pedaço de carne na panela e estava cutucando com o garfo bidente. Soltou o garfo quando ela falou. Seu semblante era pura incredulidade.
– Você, não sabe nada de como, sua raça – ele apontou pra ela. – dizimou a minha – ele apontou para ele. – Nada? – perguntou chocado.
Será que era verdade? Ela se recusava a acreditar que tudo o que sabia era mentira, mas o rosto de Rato irradiava verdade, ele estava chocado demais para aquilo ser uma mentira. Ele mexeu na carne com o garfo, mas estava desatento olhando para ela.
– Nunca lutamos nenhuma guerra, o ser humano já estava praticamente instinto quando assumimos nosso lugar como especie dominante. – ela falou, sem muita convicção. – Sua especie entrou em guerra consigo mesma e destruiu quase todo mundo e ela mesma.
– Suas amigas também acham que foi assim?
– Sim, foi assim. Sua especie
– Não,não foi,, vou contar a vocês vão ter uma boa aula de historia,amanha. E não fale mais em especie. Nós somos da mesma especie,vocês ainda precisam de nós para se reproduzirem, pode se referir a nós,no máximo, como outra raça. – disse ele tirando o pedaço de carne da panela.
Estava preto. Ele falou alguma coisa em uma língua estranha, pareceu um xingamento. Colocou o pedaço de carne em outra vasilha e jogou vários outros pedaços na panela. Em mais ou menos quinze minutos a vasilha estava cheia. De carne, ela agora tinha uma coloração que variava entre o marrom e o vermelho. E cheirava bem, um cheiro que ela nuca sentiu antes.
Ele pegou a tigela e o frasco com líquido vermelho e colocou eles perto dela, ele se sentou do lado dela.
– Vou desamarrar suas mãos, é melhor não tentar nada. – ele falou aquilo calmamente, sem nenhuma ameaça, parecia que ele mesmo não acreditava que ela fosse reagir. Ele estava certo.
Quando suas mãos foram liberadas ela esticou os braços para o alto e depois para o lado, Rato apenas observou enquanto colocava um pouco do liquido vermelho em alguns pedaços de carne do lado esquerdo da vasilha, em seguida. pegou um deles com a mão e comeu. Falou alguma coisa naquele idioma estranho, saiu correndo para o outro comodo e voltou com um outro recipiente de vidro, com água dentro, e depois copos, também de vidro. Falou alguma coisa naquele idioma, alguns segundos depois falou na língua dela.
– Esta quente. – falou enquanto colocava água nos copos. – Prove um.
Ela pegou um pedaço de carne, ele estava fumegante, soprou e mordeu uma ponta. Levou um tempo para se acostumar com o gosto, era muito bom,talvez a melhor coisa que já tivesse comido, completamente diferente dos vegetais que estava acostumada a comer. Mastigou e engoliu, aquilo era muito bom.
– O que achou?
– Nunca comi nada parecido. É… maravilhoso.
– Experimente com um pouco de molho. – disse ele apontando para a carne com o líquido vermelho.
Ela experimentou, era um pouco picante, mas o sabor também era único. Eles comeram em silêncio, quando terminaram restava pouco menos que alguns pedaços de carne na vasilha.
– Satisfeita? – ele perguntou
– Sim
– Muito bem, agora coloque os braços atrás do pé da mesa, vou amarar você de novo.
– Você acha que eu vou tentar alguma coisa? – disse ela obedecendo.
– Não, mas eu não vou arriscar. – falou enquanto amarrava ela. – Fique quietinha,porque você vai ver um pouco do que foi o mundo.
Ele recolheu a panela, a tigela e apagou a fogueira. A sala ficou escura, salvo pelo brilho da lua que entrava pela janela e algumas fendas no teto. Ele saiu da sala.
Alguns minutos depois ela teve a sensação da escuridão estar aumentando, as frestas pareciam estar desaparecendo. Não, não era uma sensação, as fendas estavam sendo fechadas e a certeza veio quando alguma coisa cobriu a janela, deixando a sala na mais completa escuridão.
Ela estava com medo, e quase gritou quando uma mão tocou seu ombro.
– Ainda está acordada?
– Sim.
Ele não falou nada,apenas se afastou, ela não conseguia ouvir seus passos, e estava escuro de mais para ver qualquer coisa. Como ele conseguia se mover naquela escuridão?
Uma luz foi projetada na parede, alguns minutos depois ela começou a ouvir um ruido vindo da parede, de dentro a parede.
De repente, imagens começaram a ser projetadas, pessoas e objetos estranhos, e sons vindos da parede. As pessoas falavam alguma coisa que ela não entendia. Ela assistiu aquilo, maravilhada.
Não fazia ideia do que era aquilo, era como se estivesse olhando por uma janela para algum lugar que não existia. Ela ficou assistindo, seus olhos lentamente foram fechando. E ela nem percebeu quando começou a dormir.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:44 pm

Já se passaram dois dias desde que ele capturou as Metallum, os últimos dias foram mais fáceis do que ele esperava. Apenas uma delas era problemática, Arya. Ou, pelo menos, era esse o nome que elas falavam.
Quando ele tentou alimentá-la pela primeira vez ela quase arrancou seus dedos com uma mordida, teria arrancado se ele não fosse mais rápido. Ele chutou seu estomago por isso, não utilizou excesso de força, apenas o suficiente para fazê-la desencorajar outras tentativas e deixar um belo borrão roxo no lugar. A garota tinha gênio forte.
Bem diferente da irmã,Ana, que aceitou bem a situação. Ela é esperta, e isso o deixava desconfortável, ela poderia estar pensando em um jeito de escapar nesse exato momento, ou não, ela também era curiosa não parava de perguntar.
Rato observou o horizonte, nenhum sinal de Metalluns, O perímetro estava limpo. Já estava escurecendo, era melhor voltar. Ele saltou do sétimo andar de uma estrutura que um dia poderia ter sido chamada de prédio, ele se agarrando em trepadeiras e saltou novamente, até chegar no nível as árvores. Uma vez dentro da floresta, ele se deslocou rapidamente por entre as árvores entrando diversas vezes dentro as estruturas arruinadas que um dia já foram prédios. Cruzou com uma onça-pintada, eles se encararam. Rato puxou a faca e continuou seu caminho com o corpo virado para onça que passou lentamente por ele. Apenas deu as costas quando o felino sumiu na mata. Continuou seu caminho pela mata fechada ate um córrego onde bebeu um pouco de água antes de seguir em frente.
Chegou no seu prédio em pouco menos de vinte minutos. Subiu a escada em silêncio, concentrado, fazendo uso de sua audição, ele ouvia as Metallum conversando, não prestou atenção na conversa,um outro som havia atraído sua atenção, uma pequena pedra raspando em corda, iria demorar horas até a corda se romper. Mas ela tentava,era paciente. Sagui provavelmente deixaria ela cortar a cora quase até o final antes de frustrá-la, estava pensando se faria o mesmo ou esmagaria as esperanças ela agora. Optou por esmagar.
Subiu as escadas e entrou no quarto normalmente, olhou para elas e se sentou em um canto. Ela havia parado de cortar, elas já perceberam que sua audição era melhor que o normal, só não tinham ideia do quão melhor. Ele pegou um bom pedaço de corda e sua faca, olhou para Ana e andou calmamente até ela,se ajoelhou  para encará-la olho no olho. Levou a faca  até a corda, que amarrava seus pulsos.
– Ajuda? – ele perguntou e ela gelou. Cortou fora a corda,que estava mais danificada do que ele havia pensado inicialmente,mais um pouco e ela se romperia.
– Quando você percebeu? – Ela estava com medo mas sorria,nervosa.
– Quando eu cheguei.
– E isso foi a quanto tempo?
Dessa vez ele sorriu, a garota já havia notado. Ele jogou o pedaço de pedra que ela havia usado para cortar a corda pela janela.
– Da próxima vez que tentar fazer isso, eu quebro suas mãos. – Ele avisou em um tom de voz calmo. Preferia falar daquele jeito a gritar ou tentar intimidar de outra forma, se ele falasse gritando aquilo não passaria de uma ameaça e ameaças não embutiam tanto medo como comunicados. Uma ameaça tem mais chances de ser vazia, do jeito que ele falava ele não duvidava que a garota tivesse certeza que ele quebraria os pulsos dela. Ele havia apenas comunicado o que faria, ela não pagaria para ver.
– Então é melhor eu fazer direito a próxima. – ela ainda estava sorrindo,aquilo a divertia,quase como um jogo.
– Eu deveria quebrar seus pulsos agora.
– Então por que você não quebra?
– Porque eu também gosto desse jogo. Já que está tão ávida para mover os braços pode fazer isso agora.
Deixou ela movimentar os braços por uns cinco minutos antes de prendê-los de novo, também deu uma olhada. o ombro dela onde ele havia acertado uma flecha. Depois disso ele libertou os braços de Selena, aquela já havia desistido, estava resignada com seu carcere. Até agradeceu quando ele libertou seus braços. Depois de prendê-la novamente ele se afastou para outro cômodo e foi tocar violão, apesar dele não levar nenhum componente de metal, tocar ali dava pra ele uma ilusão de privacidade já que as Metallum poderiam escutá-lo sem dificuldade.
Já havia escurecido quando ele deixou as Metallum usarem o balde, era uma situação constrangedora .Ele soltava os braços e pernas de uma delas e amarrava uma corda no pescoço dela lingando ao seu braço, conduzia ela até um pequeno quarto com balde de madeira no chão e esperava do lado de fora,não havia porta,a muito ela já havia sido devorada pelos cupins.
Aquela situação era constrangedora, mas também era perigosa, aquele era o melhor momento para elas tentarem escapar e elas sabiam disso, felizmente não tentaram nada. Parecia quase uma regra não escrita, ele se esforçava para dar a elas um mínimo de dignidade e elas não tentam escapar na hora da cocozinho.
Após a situação, ele lavou as mãos antes de fritar mais um pouco da carne de anta. Não era uma carne ruim, mas a porção comível era bem pequena, restava pouco mais que meia carcaça e hoje ele também fazia o fígado, amanha teria que caçar mais.
A janta seguiu o padrão já estabelecido, desamarrou uma de cada vez e deixou elas comerem com as mãos,depois voltava a amarrá-la e ia pra próxima. Quando foi designado para o grupo de exploração nunca esperou viver uma situação daquelas. Uma situação que revelou muito mais sobre o inimigo do que ele imaginava. Aquelas Metallum não tinham noção de história. Elas acreditavam em uma mentira grotesca, que deus havia decido a terra e retirado a inteligência dos humanos, e criado os Metallum para substitui-los. Como elas acreditam em uma historinha besta dessas? Como o holocausto humano foi acobertado por isso?
Ele não sabia responder, de fato elas parecia chocadas quando ele contou a historia do que realmente aconteceu, Arya achava que ele estava mentindo mas as outras duas estavam se questionando, não sabiam no que acreditar. Eles poderiam trabalhar aquilo.
Depois delas comerem foi a sua vez, ele estava faminto,e precisou fritar mais carne para satisfazer seu apetite. Estava cansado, logo dormiria, dedilhava a esmo uma melodia no violão, logo se pegou cantando baixinho. As Metallum o encaravam. Ele finalizou a música com um acorde.
– O que foi? – ele perguntou – Nunca ouviram música?
– Nada parecido com isso – respondeu Ana – Isso é muito, não sei como descrever, o som é muito diferente.
– Acústico? – ele falou a palavra em latim, não conhecia um sinônimo na língua delas.
– O que é isso? – ela perguntou
– É um tipo de som, como o instrumento propaga o som.
– Deve ser.
– E o que vocês acham da musica? – Ele estava curioso.
– É bem diferente mas eu gostei. – foi Selena que falou, ela estava bem quieta.
– É... eu também – falou Ana.
Apenas Arya se manteve quieta. O que ele já esperava. Rato começou a dedilhar uma outra melodia, fazia algum tempo que não tocava aquela musica, ficou repetindo a melodia bem baixinho até e lembrar a letra, então começou a musica propriamente dita.
“Há uma senhora que acredita que tudo que brilha é ouro” A musica começava, ele tentou cantar na língua das Mettalum mas bastou a primeira frase pra perceber que ele não conseguiriam adaptar a melodia. Começou a cantar em inglês, língua em que a musica foi feita. Ele errou algumas partes e nem tentou fazer o solo. Terminou a musica na língua delas
– “E ela está comprando uma escadaria para o paraíso” – cantou o último verso.
Ele tocou mais algumas musicas, algumas de um estilo que chamavam de Punk, outras de algo que era conhecido como rock clássico até se arriscou em tocar duas músicas de metal melódico antes de ir dormir, la mesmo, vigiando as três, estava de olhos fechados e com sono quando ouviu o barulho de pedra raspando em corda. Ele levantou, Ana e Selene estavam dormindo e Arya fingia bem.
Rato se moveu sorrateiramente, ela só percebeu sua presença quando uma das mãos estava sobre a boca dela e a outra arrancava o pedaço de pedra, a corda ainda estava em ótimo estado. Ele deu um soco na barriga dela que arqueou com o golpe.
– Vou fingir que você não tentou, pelo menos por enquanto, agora se você tentar mais alguma coisa. Bem, por que me limitar em quebrar apenas o pulso? – falou antes se afastar. Deitou em um sofá podre e dormiu.
O sol já brilhava no céu quando ele acordou, tomou um  pouco de água antes de dar uma volta pelos arredores não foi muito longe, voltou para o prédio antes das dez horas, e esperou.
Ana estava perguntando sobre a língua em que ele cantou as musicas na noite anterior,ele ensinou um pouco de ingle para elas, embora ele mesmo tivesse um vocabulário bem limitado sobre aquela língua. Selena também estava tentando aprender alguma coisa, provavelmente porque estar presa não oferecia nada melhor para fazer.
Ele ouviu um bando de pássaros levantar voo, eles estavam chegando. Demorou uns quinze minutos até poder ouvi-los, eram três. Um deles correu para o predio pouco depois de Rato os notar. Sabia quem era,levantou-se e esperou enfrente uma das portas da sala, a que ficava mais perto da escada. Ele abriu os bracos e esperou.
– O que você está fazendo? –  dessa vez foi Selene quem perguntou.
– Vocês vão ver. – disse ele fechando os  olhos
Havia um sorriso no seu rosto, já no primeiro dia ele descobriu que gostava de assustá-las. Já podia imaginar a reação das Metallum quando ele chegasse.
Estava subindo a escada agora, ele avançava muito rápido e também era bem silencioso. Rato abriu os olhos, uma onça pintada estava na sua frente e rapidamente avançou sobre ele. Rato estava sem reação, esqueceu que ele era tão rápido e caiu no chão. A onça estava sobre ele, lambendo sua face.
– Xerxes, bom ver você também garoto. – falou enquanto acariciava a onça. – Vamos, preciso levantar. – disse empurrando a onça pro lado, ela tomou conhecimento da presença das Metallum apenas naquele instante. Fez questão de mostrar a sua invejável e mortal arcada dentaria.
Rato se levantou e não tardou em atirar uma perna de anta para um dos cantos da sala, Xerxes correu atrás de seu pedaço de carne. Ele olhou para as Metallum,Arya era a única que tentava esconder o medo .Ele ouviu um assobio do corredor.
Dois gigantes entravam no apartamento. Guaxinim, tinha quase dois metros e trinta, sua cabeça quase batia no teto e sua pele era negra como ébano. O segundo gigante era menor, Tatu tinha dois e vinte, estava parando de crescer, ele tinha um longo cabelo loiro preso por tiras de couro e sua pele branca estava dominada por espinhas.
– O que aconteceu com você Tatu? – Rato perguntou em latim, era tão poder falar na sua língua nativa.
– Efeito colateral do soro, ainda tenho pelo menos um mês com a cara assim.
– Foi sua última dose? – ele perguntou enquanto ele conduzia os companheiros até a sala.
– Sim, 0,075 de soro A com isso eu chego em 0,62. Meu desenvolvimento está completo.
– Só isso? Eu terminei o meu com 0,9.
– Resolvi terminar antes da zona de efeito colateral. Decidi não jogar a  moeda.
– A zona colateral não é tão ruim quanto dizem, veja só o Guaxinim, terminou com quanto de soro, 1,6?
– 1,59 e mais alguns quebrados – respondeu eles estavam na porta da sala. – E lamentei cada decalitro depois dos 1,2. Onde eu coloco isso daqui? – Ele apontou para duas gigantescas malas repousavam em suas costas ao lado do arco de dois metros e meio.
– Tem metal?
– Bastante, a maioria equipamentos pra você.
– Deixa ali no quarto menor, terceira porta a direita. – Rato olhou para Tatu, ele também carregava duas malas do mesmo tamanho. – Tem metal?
– Acho que não.
– Coloca no quarto, vamos passar o pente fino depois.
Tatu obedeceu mas perguntou.
– Elas são mesmo tão fortes quanto dizem?
– Eu vou mostrar.
Rato entrou primeiro na sala, seguido de tatu, cuja a cabeça quase tocava no teto. Por último entrou o guaxinim que teve que abaixar a cabeça para passar pela porta. Ana gritou.
– O que ele tem? – ela perguntou
– Espinhas, provavelmente um quilo delas. – Rato respondeu, os seus companheiros não conheciam a língua delas, apenas ele e Sagui aprenderam a língua das Metallum.
– Não ele, o outro. Porque a pele dele esta desse jeito?
Rato riu, parecia que elas também nunca viram um negro na vida.
– Ele só é preto. – respondeu ele ainda rindo
– O que ela tem? – perguntou Tatu.
– Ela se assustou com a sua cara.
Guaxinim riu, ele deitou no sofá, suas canelas ficaram balançando no ar. Tatu sentou encostado na parede ele estava inconformado.
– Relaxa, sua cara ainda não esta tão ruim assim. Ela se assustou com o Guaxinim, parece que ela nunca viu um negro na vida.
– Serio? – perguntou o Guaxinim.
– Vocês já viram alguém com a cor de pele igual a dele?
Todas garotas, até Arya, responderam que não.
– Seríssimo, acabei de confirmar.
– Isso abre uma janela de oportunidades. – disse Guaxinim com um sorriso malicioso no rosto.
– No que você está pensando? – perguntou Tatu
– Inventa uma historia pra eu ter essa cor de pele, alguma coisa que possa deixar elas cagadas de medo.
– Vou pensar em alguma coisa. – disse ele,uma vaga ideia se formava na sua cabeça. – Querem almoçar?
– Por favor, estou morrendo de fome,não como a umas quatro horas.
– É o soro – explicou Guaxinim. – Ele não pode ficar muito tempo sem comer.
– Foi por isso que trouxeram o Xerxes?
– O Xerxes sozinho caça melhor que nós três juntos – falou Tatu.
– Vocês dois talvez, mas eu sou bom caçador. Abram o refrigerador e confiram por si mesmos. – disse ele apontando para a caixa. –Aliais eu preciso de um novo, esse dai já esta quase sem bateria.
– Tá, depois eu anoto.
– Tem panela e óleo na cozinha, vocês preparam o almoço hoje.
– Isso é jeito de um anfitrião tratar seus convidados? – falou Tatu em um tom jocoso.
– Esse anfitrião vai traumatizar três Metalluns que nunca viram um marciano na vida.
– Marciano? – perguntou Guaxinim.
– É por isso que você tem essa cor de pele. – rato falou com uma cara seria que era extremamente cômica..
– Parece promissor, conte me mais sobre isso.
– Ajude o Tatu a preparar o almoço, que depois eu conto.
– Confio em você – disse Guaxinim se levantando.
Ele já sabia o que falar. Só estava pensando em como falar, eis o segredo de uma boa mentira, coerência e confiança. Rato falou pra elas sobres as guerras que destruíram os humanos mas falou muito pouco de como era a civilização humana antes da guerra, era o lugar perfeito para encaixar a mentira.
– Pensando bem, é até normal vocês não conhecerem ninguém de pele negra.
– Por que? – perguntou Ana, ela mordeu a isca.
– Bem, eu acho que não contei muito sobre como era a civilização humana antes de vocês. Os negros Nasceram nos últimos seculos da humanidade. No seu apogeu. Quando o homem dominava todo o planeta e estavam iniciando o processo de colonização espacial. Os homens negros foram fruto dessa colonização.
– Como assim?
– Os homens negros são descendentes dos primeiros homens mandados para colonizar marte. Os foguetes usados eram maiores que aranha céus. Cada um deles transportava algo próximo a dez mil pessoas, nós temos confirmados vinte e três foguetes, lançados de diversos pontos da terra, mas temos suspeitas, quase certeza, que forma mais, provavelmente cinquenta foguetes.
Rato adorava usar números que não fossem múltiplos de cinco, parecia que dava um tom maior de veracidade. As Metalluns estavam atentas, não faziam ideia do absurdo que estavam ouvindo. Estava na hora de finalizar a mentira.
– Os colonizadores conseguiram habitar marte por quase uma década mas a comida estava acabando e Marte tinha suplementos escassos. Os colonos então voltaram para terra em usando um segundo foguete, um pouco menor que um prédio de quinze andares. Houveram problemas na viagem de volta e pelo menos 1/3 os foguetes não conseguiu voltar pra terra. Os colonos que voltaram pra terra continuavam normais, a mutação apareceu nos filhos deles, e nos filhos dos filhos deles. Era hereditária. A mutação carrega duas mudanças, a primeira como vocês já perceberam é a pele negra, a segunda não é visível. Uma habilidade, um poder. Eles conseguem entrar nas mentes das pessoas, independente de quem for. O guaxinim já entrou de leve na minha cabeça, não foi uma experiência agradável nem pra mim nem pra ele. Mas ele apenas, vamos dizer, tocou de leve, e meio que se defender de um ataque mental não é nenhum segredo para um ser humano.
– Rato, o almoço tá pronto – gritou Tatu,da cozinha.
– Já vou – respondeu ele, depois de alguns instantes ele respondeu de novo, dessa vez falando em latim.
As garotas estavam assustadas. ele havia feito seu trabalho muito bem, só daria os últimos retoques.
– Vou almoçar agora, e ainda hoje, pelo menos duas de vocês vão ser transferidas para toca. Vocês agora já deem ter percebido o porque do Guaxinim vir aqui. Obviamente se alguma de vocês tentar alguma durante a viagem até a toca ele vai fazer alguma coisa bem mais dolorosa o que apenas “tocar de leve” na sua mente. O Guaxinim pode parecer mais forte que um urso, provavelmente é,ele já matou um leão apenas com as mãos,mas isso não vem ao caso. O poder dele é muito pior que a sua genuína força bruta, e ele é a nossa garantia de uma transferência segura.
Rato se levantou e foi para a cozinha com toda a calma do mundo, Xerxes se estirou em um canto e estava pegando no sono,logo dormiria. No momento em que Rato passou pelo corredor um sorriso saltou de seus lábios.
– Como foi? – perguntou o Guaxinim.
– Elas estão cagadas de medo. – Rato fez uma pausa para escutar a conversa na sala. – Estão falando de você agora.
– Acha que isso vai durar por quanto tempo?
– Semanas, meses, até o Sagui contar, quem sabe? – disse ele sentando no chão da pequena cozinha, apoiando as cosas em um antigo móvel quase destruído,quase.
Tatu entregou para ele uma tigela de cerâmica, havia carne de anta, mandioca frita e ovo cozido. Guaxinim lhe entregou um odre, Rato bebeu sem perguntar o que era, estava cansado de beber apenas água. O gosto era doce, e havia álcool,  uma combinação estranha, de mel cm alguma coisa.
– O que isso? – ele perguntou entregando o odre pra Guaxinim, que deu um gole antes de passar para Tatu.
– Essa maravalha é hidromel, a primeira safra do Sagui.
– E longe de ser a última – completou Tatu.
– É bom demais, mandem os parabéns pro Sagui.
– Ele mandou dois odres pra você. Mais do que o suficiente para as suas próximas duas malditas semanas.
– Isso sim é uma boa noticia, só falta dizer que meu equipamento de escalada também chegou.
– Mais duas semanas se você tiver sorte, um mês se tiver azar. – disse Tatu que estava com o ore e agora passava de novo para Rato.
Eles almoçaram enquanto conversavam, falavam do passado, relembravam e recontavam historias que viveram juntos durante o treinamento. Contavam também histórias antigas, de quando o homem dominava o mundo e sonhavam com histórias futuras, algumas de gloria, outras de tragedia. Todas idealizadas, regadas pelo hidromel que revezava de mão em mão.
O Odre já estava acabando quando começou a garoar. Estava na hora de começar os assuntos sérios.
– O que vocês acharam das Metallum? – perguntou Rato.
– Elas são lindas, mas não tenho certeza se são tão mortais quanto falam.
– Vem ver isso – disso Rato se levantando e guiando eles para o andar de cima. – Foi nesse andar que eu capturei elas, ali eu atirei em uma das gêmeas, a Ana, a morena ficou ali e com ela. – Rato andava e apontava os lugares par os companheiros. – Mas a outra gêmea, Arya, me seguiu até esse quarto, e depois aquele, onde eu voltei pra esse e disparei um dardo tranquilizante. O que vocês acham?
O quarto estava uma zona, as paredes de concreto foram  perfuradas em diversos pontos por buracos que pareciam por tiros de revólver, o chão tinha um risco que penetrava fundo no assoalho e seguia subindo até a parede onde o objeto que o fizera, um cano de metal, estava preso.
Guaxinim e Tatu entraram no outro quarto, onde Rato sabia o que encontrariam. Tres marcas na parede, semelhantes a do outro comodo, uma cama estraçalhada,com seus componentes metálicos espalhados pelo quarto, alguns cravados na parede,mais duas marcas parecidas com tiros, um cano cravado no teto e outro fincando na parede, bem próximo a porta.
– Só uma delas fez isso? – foi o Guaxinim que perguntou.
– Arya, a outra gemea, ela é bem impulsiva, na primeira chance que tiver vai tentar escapar Não deem essa chance, ela não precisa de muito.
– Só vamos precisar nos preocupar com ela? – inqueriu Tatu.
– A outra irmã é ainda mais perigosa, não se enganem a Ana é ardilosa ela vai pensar antes de fazer qualquer coisa. Mas quando o momento for perfeito, ela vai agir. Embora ela não pareça ter a mesma sede de sangue da irmã, tomem cuidado.
– E o que você vai fazer com a outra.
– Mantela aqui por mais um dia,talvez dois. Depois ela vai trabalhar para gente.
– Como você vai fazer isso?
– Ou ela me obedece ou as amigas morrem.
– Uma vez que as duas estejam dentro da toca, vamos extrair informações delas também, não vamos poder executá-las.
– Eu sei disso, mas ela não.
– Mesmo assim, você vai estar jogando um jogo muito arriscado.
– Deixa disso Guaxinim – interrompeu Tatu – Nós dois sabemos muito bem como esse merdinha é convincente. Lembra do treinamento?
Guaxinim sorriu, era impossível não sorrir diante da lembrança.
– Rato e Sagui, não tem como esquecer. Deve ser fácil comparado com o que vocês fizeram.
Rato também sorriu, seria fácil.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:47 pm

Rato desamarrou seus braços, trazia com ele uma tigela com carne e algum legume frito e ovo, ela comeu avidamente, estava com fome, ela foi última a comer dessa vez.
    – Hoje vocês duas vão embora – ele estava falando com ela e a irmã. – Meus dois amigos ali são o Tatu – ele apontou para o loiro. – E o guaxinim – apontou para o marciano. – E o Xerxes ali também vai. – Apontou para a onça-pintada que dormia perto da parede – Eles não sabem falar a língua de vocês,o que significa que eles vão bater primeiro e deixar pra perguntar apenas quando vocês estiverem na toca. Não tentem nada, se não Guaxinim vai entrar na cabeça de vocês, isso seria bem desagradável.
    Ele a amarrou de novo quando ela terminou de comer e saiu da sala mas isso não o impedia de ouvi-las. “Ele escuta tudo” pensou desanimada.
    A sua situação atual era lastimável, mas, ao mesmo tempo, exitante. Há três dias estava apenas passeando pelos limites da cidade velha com as amigas, sua roupa, uma camisa e calças brancas, estavam impecáveis e ela só esperava voltar para casa antes do anoitecer.
    No entanto, agora ela se encontrava lá, numa ruína da época dos humanos, como prisioneira deles. Suas roupas estavam sujas, ela se sentia suja. Nem em seus devaneios mais fantásticos poderia imaginar uma situação daquelas. Ainda existiam humanos selvagens e eles eram inteligentes. E planejavam vingança por uma guerra que nunca existiu, ou existiu, e ela não sabia.
    Agora ela seria levada por esse lugar chamado de toca, por um homem e um marciano. Não fazia ideia do que a estava esperando, dificilmente seria pior que aquilo,eles as queriam vivas. Ainda não fazia ideia do por que, mas sabia que eles queriam.
    Ela tinha medo, medo de Rato, do marciano e do outro estranho mas eles também tinham medo delas. Não sabia se os outros dois ouviam tão bem quanto Rato,se não ouvissem, poderia ter haver uma chance de escapar. Poderia, mas ela ainda não sabia se queria.
    – O que vai acontecer com a gente? – Arya perguntou, ela também estava com medo.
    – Nós não deveríamos falar muito, o Rato pode escutar.
    – Mesmo assim, o que você acha?
    – Acho que eles vão nos prender em um lugar melhor vigiado, acho que o Rato esbarrou na gente por acidente, ele veio pra cá por outra coisa. Nós somos apenas um contratempo de seja la o que ele veio fazer.
    – E o que ele veio fazer?
    – Talvez… observar, nos observar, observar a cidade – disse Selena.
    – Mas pra que? – Perguntou Arya, mas ela já havia pensado naquilo. Era um pensamento perturbador.
    – Ele não para de falar de como foi o mundo humano, acho que eles vão, atacar a cidade. – Selene respondeu.
    Elas não falaram nada por um tempo.
    – E você Selene, o que acha que vão fazer com você?
    – Me matar. – ela estava triste, uma lagrima escória por seu rosto.
    – Se fossem te matar, Rato já teria feito isso.
    – Acho que eles decidiram isso agora, eles devem achar muito perigoso levar nós três, então eles decidiram me matar e levar vocês duas.
    – Isso não faz sentido – Arya falou, e ela concordava. – Se fossem matar alguém, seria eu. Fui a única que resistiu e estou tentando escapar o tempo todo. A Ana também tentou escapar, você foi a única que não tentou nada, se alguma de nós vai ficar viva vai ser você.
    – Eles devem fazer duas viagens, resolveram deixar você aqui justamente por ser a menos perigosa e facilitar o trabalho do rato. – Ana falou,mas aquilo não parecia certo, Rato conseguia vigiar as três de uma vem bastante bem e sabia como lidar com ela e a Arya, levar a Selena primeiro com ela ou a Arya lhe parecia mais inteligente.
    Eles voltaram quase uma hora depois, a chuva parrou e o sol estava se pondo, a onça havia acordado e andava ao redor delas, ela se sentia desconfortável sob o olhar do felino
    O Guaxinim levava uma mala nas costas e um arco maior que o de Rato, maior até que ele mesmo. O Tatu entrou na sala depois, não levava nada, tinha alguma coisa preta e a outra estava atrás das costas. Rato entrou depois, falou alguma coisa naquela língua que ela não entendia.
    Tudo foi muito rápido. Rato pulou sobre Arya, havia alguma coisa na sua mão,ele cravou o que quer que seja no ombro da irmã. Tinha metal, ela percebeu, mas antes que pudesse pensar em agir Tatu já estava sobre ela, e um objeto semelhante foi cravado em seu ombro,o direito,que não estava machucado pela flecha. A dor foi aguda, e o ferimento começou a latejar,o objeto foi retirado segundos mais tarde. A sua visão começou a a vacilar, sua cabeça,a rodar. Alguma coisa estava sendo colocada na sua cabeça, o mundo ficou preto, ela apagou.

    Ouvia passos, seu corpo se movimentava, pendendo no ar, apenas sua barriga estava apoiada em alguma coisa que andava. Tentou movimentar as pernas, de leve, apenas para descobrir que estava amarrada. Repetiu o procedimento com os braços, a mesma coisa. Abriu os olhos,escuridão, sua cabeça estava coberta por um tecido liso preto, ela não conseguia ver nada além dele.
    – Ei, tira isso da minha cabeça, por favor.
    Eles falaram, alguma coisa naquele idioma estranho. “Eles não falam a minha língua” ela se lembrou, Começou a se debater, apenas para tentar tirar o tecido da sua cabeça. Ela acabou caindo, quantos metros? Ela não sabe,mas foi uma queda longa, quase uns dois metros até o chão embora tivesse parecido muito mais. Bateu a parte superior das costas em algo que parecia uma raiz enquanto o resto do corpo foi aparado pelo chão duro. Ana gritou de dor.
    Ouviu mais algumas palavras naquela língua estranha, o tecido preto foi retirado da sua cabeça revelando um céu escuro  e uma arvore que logo foi encoberta pelo Guaxinim,ele era alto e parecia ainda maior com ela caída ali no chão.
    Ele a virou, e puxou sua camisa. “Está olhando
 as minhas costas” ela percebeu. Ele falou alguma coisa enquanto examinava. Ele tocou em um ponto.
    – Ai – ela falou.
    No chão, uns dois metros e pouco a sua frente havia alguns fragmentos de metal. Ela poderia tentar usá-los,não sabia se estavam afiados. Se estivessem, ela poderia tentar atacar o marciano. Mas faria o que? Não queria matá-lo e provavelmente também não conseguisse, e mesmo que o fizesse ainda tinha o outro homem. Afastou aquele pensamento insano da cabeça. Mesmo assim era uma oportunidade boa de mais para ser desperdiçada.
     Ela deu um leve puxão em um daqueles pedaços e habilmente o impulsionou ate a sua mão, momentos antes do Guaxinim cobrir novamente sua cabeça com aquele estranho tecido. Ele a levantou. Quando se deu conta seus membros já estavam pendendo novamente no ar e ela estava apoiada no ombro do Guaxinim. Ele não percebeu o pedaço de metal na sua mão.
    Desse momento em diante o tempo foi substituído por passos, foram 19064 passos até eles pararem, Ana contou. A maior parte do caminho foi monótono, passos estáveis por um terreno plano, ou com uma inclinação tão baixa que não fazia diferença. Ouviu a irmã esperneando em alguns momentos,mas foram poucos. Em um momento eles cruzaram um riacho, suas mãos rosaram na água por alguns segundos. Ela queria cortar fora as amarras que a prendiam e retirar o maldito tecido que cobria seu rosto. Ela queria, mas resistiu ao impulso, ainda não estava na hora. Guardou o pequeno fragmento de metal em uma pequeníssima abertura entre o seu pulso e a corda que a prendia.
    O Guaxinim a recostou em uma árvore, ele ficou conversando com o outro homem por um bom tempo, falavam aquela língua estranha, ela tentou decifrar algumas palavras, sem sucesso.
    Um cheiro começou a vir de algum ponto a sua frente, era carne sendo feita ela já avia se acostumado com o odor, saliva escorreu pelos seus lábios, estava com fome, seu estômago estava roncando.
    Alguma coisa tocou a sua testa, o tecido foi retirado revelando uma clareira iluminada por uma fogueira em seu centro, perto dela repousava Xerxes, a onça, que mordiscava preguiçosamente um pedaço de carne. Do outro lado da clareira em uma outra arvore estava a sua irmã.
    O Guaxinim estava de costas pra ela, falando alguma coisa. Ana fez o pedaço de metal aterrizar perto de uma raiz da árvore em que ela se apoiava, encoberto por ela, esperava.
    O Guaxinim se virou naquele instante, ele liberou suas mãos e lhe entregou uma tigela, um ensopado de carnes e alguns poucos legumes. Ele lhe entregou uma colher de madeira e sentou-se ao lado dela. Ela comia em silêncio enquanto os homens conversavam. Tatu abriu uma mala que ela não havia percebido escondia atrás da árvore, ele tirou um objeto de couro, parecido com uma bolsa.
    Sentiu um movimento ao seu lado, Guaxinim estava fazendo a mesma coisa, o objeto dele era um pouco menor. Ele colocou o objeto perto da boca e apertou, um líquido foi expelido pelo objeto. Ele bebeu e, para sua surpresa, passou o objeto pra ela.
    Ela segurou o objeto receosa, encontrou o bico por onde saia o líquido e colocou perto dos balios, apertou, e o líquido veio. Era doce, parecia mel, mas tinha alguma coisa a mais. Era  mel liquido, com mais aquela coisa que deixava o gosto daquele jeito. Bebeu um gole e devolveu para ele.
    – O que é isso ela perguntou?
    – Hidromel. – ele falou, ela ficou surpresa, não pensou que ele entenderia de primeira.
    – Hidromel? – ela repetiu, a palavra saiu embolada.
    – Hidromel. – ele disse novamente, lentamente.
    Ela repetiu. A palavra saiu mais parecida dessa vez, o marciano sorriu. Eles continuaram bebendo aquele líquido estranho chamado de hidromel enquanto comiam. O Guaxinim lhe ensinou mais algumas palavras e eles conseguiram se comunicar razoavelmente bem usando de mímica.
    Arya estava dando trabalho do outro lado clareira, tentou fugir duas vezes, na segunda o Tatu a agarrou e ela apagou, não tinha certeza se o responsável por fazê-la cair daquele jeito tinha sido o humano ou o marciano ao seu lado. Pelo que Rato disse, ela torcia para o marciano não ter invadido a cabeça de sua irmã. Afinal, por que ela queria tanto fugir?
    Estava se sentido estranha, não sabia se tinha alguma coisa no ensopado ou no hidromel, estava se sentindo…  menos lucida. Aquilo sensação era muito estranha, mas naqueles últimos dias, estranho se tornou um tipo de normal. Afinal o que é normal? Com esse pensamento ela adormeceu.
    Ana acordou, sentia cheiro de queimado, estava com aquele tecido na cara de novo. Seu corpo pendia de novo, não sabia há quanto tempo estava sendo carregada. Não contou os passos dessa vez, estava com preguiça, as passadas eram ritmadas e monótonas, logo ela dormiu de novo.
    Acordou mais uma vez, estava com fome, falou  alguma coisa qualquer mais para avisar que acordou do que qualquer outra coisa. No fim das contas ela perdeu o pedaço de metal, esquecido, perto da raiz da árvore. Eles parram 1532 passos depois, embora ela só tenham começado a contar depois de um certo tempo. Tatu estava levando ela, ele lhe deu um pedaço de pão velho com queijo duro e um pouco de água.
    A comida fria não foi o suficiente para saciar a sua fome mas era melhor do que nada. O queijo era bem forte e tinha um sabor familiar. “Ao menos alguma coisa em comum”. Quando ela terminou o magro dejejum seus bracos foram amarrados novamente e o i tecido foi colocado novamente sua cabeça.
    Então seus pés foram liberados.
    Eles andaram o resto do caminho. Tatu a conduzia por um terreno irregular, um declive. Ela tinha a impressão de que uma queda poderia significar a morte, provavelmente porque ela não via o caminho, ou tivesse a mais vaga ideia de onde estavam.
    Eles continuaram descendo, o terreno se tornou plano e eles atravessaram um rio, a água batia em sua barriga a maior parte do tempo embora no meio do rio houveram alguns trechos que ela alcançava seus ombros.
    Continuaram a andar. E a andar. Seus pés doíam, vozes estranhas falavam naquele idioma estranho, Guaxinim e Tatu respondiam. Ouviu sua irmã gritar. Parou.
    Silêncio.
    Tatu, ou talvez já outra pessoa, empurrava ela de leve para frente, um modo de indicar o caminho. Ela quase caiu no chão quando o homem empurrou mais forte. Voltou a andar. Havia uma pequena subida, o chão sob os seus pés mudou, agora era madeira e depois voltou a ser terra.
    Mais vozes, mais daquele idioma. Alguma coisa rangeu, um leve empurrão e Ana continuou andando. O chão era de madeira novamente, embora essa fosse diferente. Pisou em alguma coisa que deveria ser um cabo. Continuou o trajeto até mais um rangido.
    Eles liberaram seus braços e retiraram aquele tecido que bloqueava sua visão.
    O pequeno quarto era de madeira. Chão de madeira,uma pequena mesa de madeira, quatro cadeiras de madeira, um projeto de cama de madeira com um coxão e travesseiro. Que deveriam ser as únicas coisas que não eram feitas de madeira. Auguem entrou no quarto.
    Ele era o menor homem que ela já virar não deveria ter mais de 1,75 metros. Era um marciano, seu rosto era incrivelmente parecido com o do Guaxinim, eram quase iguais. Vestia uma roupa cinza, camisa e uma causa que terminava antes dos joelhos, não que isso importasse mas ela não pode deixar de reparar. Ele fechou a porta de madeira atrás de si.
    – Ola. – ele disse no idioma dela. – Eu sou o Sagui. – ele se sentou em uma cadeira e indicou outra para Ana,que se sentou. – Temos muito o que conversar.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:48 pm

Os dois gigantes voaram sobre suas amigas, eles seguravam dos pequenos objetos que eram facilmente escondidos por aquelas grandes mãos. Cravaram os objeto perto  do pescoço delas e segundos depois os atiraram para longe.
Os objetos eram de metal, ou tinham alguma parte de metal. Era a única explicação que ela achou para aquele comportamento. Tentou sentir o metal mas estava longe demais. Os dois brutamontes colocaram um tipo de saco preto na cabeça delas, desamaram-nas da grande mesa e as colocaram sobre seus ombros. O marciano levava Ana e o loiro levava Arya. Os braços e pernas delas pendiam no ar, “como a carcaça de um animal morto”. Selene achou aquele pensamento perturbador.
Os gigantes saíram da sala, um de cada vez o marciano teve que abaixar a cabeça para passar pela porta. Rato se despediu deles ali mesmo, sentou ao lado da onça e começou a acariciá-la, quando o felino e levantou e correu até a porta Rato se levantou e foi até a janela. De punho fechado, ele bateu três vezes a mão esquerda no peito e então levantou o braço direito, erguendo o mais alto possível, com a mão direita aberta. Gritou alguma coisa naquela língua estranha, se houve resposta, ela não escutou, mas quando ele se virou estava sorrindo.
– Agora somos só eu e você. – o sorriso dele a assustava. Estava sorrindo quando saiu da sala, voltou alguns minutos depois carregando três caixas com um objeto de couro no topo. Ele colocou as caixas perto do sofá e se sentou ao  lado dela com o objeto de couro nas mãos. – Já viu um desses?
– Não.
– Isso é um odre – falou enquanto soltava os braços dela com a mão direita, o objeto tinha nome naquela língua estranha. – Esse objeto é uma invenção bem antiga, existiam desde a antiguidade clássica, isso são uns quatro mil anos, provavelmente ainda mais antigo. – Ele colocou o bico do saiu odre perto da boca e bebeu um gole de alguma coisa. – Quer um gole? – ofereceu
Ela pegou o objeto, bebeu um pequeno gole do líquido, tinha um gosto doce e alguma coisa diferente. Estava receosa.
– O que é isso?
– Hidromel, meus amigos trouxeram. – O nome da bebida também era naquela língua. Ele se sentou ao lado dela
– É muito bom
– Eu sei – disse ele tomando um gole e passando o odre. – Você sabe por que ficou aqui?
– Não sei
– Mas você já deve ter pensando em alguns porquês.Vamos, diga.
– Vocês não poderiam levar nós três juntas ou talvez acharam perigoso, então levaram as duas primeiro e vão me levar daqui alguns dias.
– Se fosse por causa de perigo iriamos ter mantido a sua amiga Arya aqui. Você não tentou escapar nenhuma vez, a viagem seria mais segura se fosse você ao invés dela. Alguma outra ideia?
Bem que Ana havia falado algo parecido. Ela tinha uma outra ideia.
– Você vai me matar?
– Se fosse pra matar uma de vocês, bem você já sabe quem seria.
“Arya”pensou.
– Então por que estou aqui?
– Porque amanha eu vou te soltar.
Não havia como esconder a surpresa, Selene não esperava que sua situação pudesse melhorar, na verdade, estava se considerando morta desde o dia em que ele a prendera. E agora ele a libertaria. Isso não poderia estar certo. Seu semblante era um misto de alegria, surpresa e dúvida. Havia alguma coisa por trás desse ato.
– E por que você vai me soltar?
– Preciso de informações sobre a cidade de vocês, algumas coisas que não posso ver do lado de fora, você vai me fornecer essas informações.
– Quer que eu espione a minha cidade?
– Exatamente.
– Por que você acha que eu vou fazer isso?
– Por que suas amigas morrem se você não fizer.
Então era isso. Rato falou aquilo com aquela assustadora normalidade e passou o odre. Ela tomou um longo gole, tossiu, aquela bebida era estranha.
– Como eu vou saber que minhas amigas estão vivas?
– Não tem como saber, vai ter que confiar em mim.
Ela suspirou. Que escolha tinha? “Vou pensar em alguma coisa”.
– Que escolha eu tenho. Vou fazer como você quer.
– Ótimo, amanha eu lhe dou mais alguns detalhes. Deixando isso de lado agora, eu recebi um projeto novo, quer ver alguns filmes? – Aquela palavra foi dita no idioma estranho
– O que são filmes?
– Lembra das imagens na parede?
– Aquilo é um filme?
– É
– Sim, claro – falou animada, as imagens na parede ainda estavam na sua cabeça, havia tentado explicar aquilo ara suas amigas mas nem ela mesmo soube explicar. Era estranho, tudo naqueles dias era estranho.
Rato se levantou, pegou uma das caixas e colocou em cima da mesa. A caixa era de metal, mas ela nem tentou manipulá-la, poderia tentar matar o rato, mas e depois? Suas amigas morreriam. E também, ela não queria resistir, não por enquanto, queria assistir ao filme e tinha impressão que sua situação só melhoraria a partir de agora.
Seu carcereiro mexia na caixa incessantemente, uma luz foi projetada na parede mas logo apagou. Rato saiu da sala.
– Já volto, não mexa no projetor. – disse ele já no corredor.
Selene esperou, desamarrou suas pernas e andou um pouco enquarto esperava. Rato não ficaria bravo com aquilo, se ele colocou metal perto dela estar livre para andar não seria nenhum problema. Ela se deitou no sofá, havia um pedaço de metal ai. Era pequeno, não deveria ter mais de sete centímetros, o objeto estava quebrado mais ou menos na metade, deveria ser circular, também tinha algo escrito naquela língua estranha.
A sala começou a ficar mais escura, as pequenas fendas na parede e a janela estavam sendo cobertas, até tudo estar escuro. Ela ficou ali, deitada no sofá, controlando o amuleto no ar, manipular o metal lhe trazia uma sensação de segurança.
– Ei, devolve isso ai.
Ela disparou o pedaço de metal em direção voz, não foi um disparo forte, tinha quase a mesma força de um arremesso. Ouviu um som abafado, provavelmente uma pegada. Alguns segundos depois, a luz foi projetada na parede.
– Se quiser andar, tudo bem, pode até pegar algumas almofadas, mas o sofá é meu. – A face de rato estava iluminada pela luz, conferindo a ele uma aparência sinistra e espectral.
– Desculpe. – Ela falou debilmente pegando quatro daquelas almofadas velhas e sentando no chão.
Ele acabou de regular o aparelho, as imagens começaram a ser exibidas, aquela janela mágica foi aberta. O som começava a sair de dentro das paredes. Rato venceu a distancia que separava ele e o sofá em três saltos, com direito a uma suave aterrissagem que fez o velho móvel ranger.
– Acho que a primeira vez que você viu um desses não deve ter entendido muita coisa, vou traduzir os diálogos pra você, mas não pergunte nada durante o filme.
– Obrigado, não vou perguntar. – ela falou.
O filme começava com um homem em uma sala, ele usava um tipo de casaco preto, feito de um tecido estranho, também usava uma camisa branca e um tecido parecido com o primeiro envolta do pescoço. Ele começou a falar, rato sussurrou a tradução atrás dela.
– Eu acredito na America. A América fez minha fortuna, criei minha filha no estilo americano mas eu a ensinei a não desonrar a família.
– O que é América?
– Sem perguntas agora. Depois eu respondo. – ele parou de falar, depois,continuou a traduzir. – Então bateram nela, que nem um animal, seu rosto estava desfigurado, ela não conseguia nem chorar. Fui a policia como um bom cidadão, o juiz os condenou e no mesmo dia suspendeu a sentença. E Eu disse, se quisermos justiça. Vamos ao Don Corleone.
O dialogo continuou, com um outro homem que estava na sala, sentado do outro lado de uma mesa. O homem era imponente, a cena terminou com o primeiro homem beijando a mão do segundo e o chamando de padrinho enquanto o último o conduzia até a porta. Aquilo mal havia começado e ela tinha dezenas de perguntas mas resistiu ao impulso de perguntar.
O filme era longo mas ela tinha a estranha sensação de ter sido muito rápido. No final estava meio chorosa, sentia um misto de raiva e alegria, e também um tipo estranho de tristeza, aquilo era muito estranho, os humanos eram muito estranhos, tudo o que vinha deles era estranho.
– O que achou?
– Foi tão… não sei o que disser.
– Faltam palavras?
– Sim.
– Quer que eu responda alguma pergunta?
– Muitas.
– Pode perguntar, ainda esta cedo de mais pra dormir. – Ele falou jogando o amuleto de aço para cima e apanhando-o no ar.
E ela perguntou, e perguntou mais. Rato respondia as perguntas naquela quase escuridão, iluminada apenas pela luz branca do projetor. Perguntou sobre pedaços de papeis, veículos de quatro rodas, aqueles pequenos objetos metálicos que matavam, e mais,muito mais. Perguntou sobre aquela época, queria entender tudo o que não conseguiu e coisas que não entendeu completamente, como o que era uma família. Rato respondia a todas as perguntas como podia, parecia difícil para ele explicar algumas coisas, haviam palavras que não existiam na língua dela, a maioria das vezes ele as chamava pelo nome na língua dele.
Ele contava sobre aquele passado distante sorrindo, aquele mesmo sorriso de todos os dias, por que ela achava aquele sorriso tão assustador? Não sabia mais dizer, ele também não a assustava mais, não tanto quanto antes.
A luz do projetor começou a falhar, rato pulou do sofá e desligou o equipamento rapidamente.
– Esse daqui tem que durar por mais duas semanas, não posso deixar ligado por muito tempo. Fique ai, já volto. – ele falou aquilo na mais completa escuridão.
Ela conseguiu ouvir uns dois passos, ele saiu da sala. Como ele conseguia se mover tão rápido no escuro? Perguntaria depois. Uma pequena luz começou a entrar pelas fissuras da construção e pela janela. Pouca luz, mas, mesmo assim, alguma luz. Rato retirou o que quer que cobrisse aquilo, ele voltou entrando pela janela pouco tempo depois. Andou lentamente até o sofá e se deitou.
– Tem mais alguma pergunta pra fazer?
Ela ainda tinha muitas perguntas, fez apenas algumas. E ele continuou respondendo o melhor que podia, brincando com aquele pedaço de metal. Ela estava curiosa.
– O que é esse pedaço de metal? – ela perguntou, não deveria, sabia que não deveria, mas perguntou.
Rato não respondeu, ficou calado, o sorriso desapareceu do seu rosto. Estava pedindo desculpas quando ele respondeu.
– Tudo bem, você só me pegou de surpresa. – seu tom de voz estava diferente, não estava tudo bem, dava para ouvir a tristeza em sua voz. – Foi um presente da minha irmã. – falou, parecia que diria algo mais mas pensou melhor. – Escuta, estou com sono, vou dormir, pode fazer o que quiser, só não toque em nada e esteja aqui quando eu acordar.
Ele se virou de costas para ela, aquele era o carcereiro que ela tanto temia, e agora no entanto, parecia tão frágil. Havia uma história por trás daquele amuleto. Um dia perguntaria mais, mas no presente momento se limitaria em levantar e andar pelo prédio.
Aquelas construções humanas não eram muito diferentes das suas, eram mais largas e baixas se comparado a um edifício Metallum embora ela não pudesse ter certeza, a maior parte das construções humanas desabaram e o que sobrou está em ruínas. Selene passeou pelo prédio, fez aquilo com calma, observou cada andar, cada cômodo, mesmo estando escuro. Aquele edifício era bem diferente dos mais próximos da cidade. O modo como o espaço era ordenado, os moveis arruinados, o material que sustentava o prédio. Independente de como a civilização deles acabou, ela reconhecia que eles foram incríveis.
Subiu até o último andar, as estrelas brilhavam no céu acompanhadas por uma lua minguante. No horizonte, ela podia ver uma tímida luz amarela. Era a grande torre da cidade, voltaria para lá amanha, curiosamente, não se sentia aliviada ou feliz com aquilo, estava com medo. Era loucura, mas havia gostado de seus dias em carcere. Havia aqueles filmes humanos e aquela estranha musica humana, e ela também comeu carne. Por mais desconfortável que tenha sido, ela também estava com usa amigas.
Agora o que lhe restava na cidade? Ela não tinha mais ninguém esperando por ela, ou quase, havia mais uma amiga, Zyra, mas estava longe de ser tão amiga como são as gêmeas. Na cidade também haveria segurança, e a vida de sempre, ela não tinha se dado conta de como aquela vida era … não tinha uma palavra, a sua língua também era incompleta. Dúvidas também emergiam na sua mente. Como a receberiam? Como explicaria o sumiço das amigas? Não sabia.
Tinha medo, medo de voltar para aquela vida que considerou perfeita durante tanto tempo, e descobrir que não era tão perfeita quanto parecia. Medo de ter vivido em uma ilusão. Os humanos,nos filmes deles, eram capazes de coisas brutais, o que impedia as metallum de fazer coisas parecidas? Afinal qual era a verdade por trás da extinção dos humanos selvagens?
Deitou no chão, apoiando a cabeça em um pedaço de concreto que a muito tempo havia se separado de uma estrutura maior. Ficou pensando, enquanto olhava para o vazio além do céu. Não sabia quanto tempo ficou ali pensando, mas adormeceu naquele mesmo local.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:49 pm

Rato acordou, as lagrimas haviam secado em seu rosto, aquela Metallum pegou ele de surpresa. “Minha culpa” pensou, não devia ter deixado o amuleto ali. Segurou o amuleto com duas mãos e ficou olhando para ele. “Helena” pensou no nome com pesar. Lagrimas escorreram por sua face, será que sempre aquilo nunca pararia, será que poderia ao menos uma vez se lembrar dela sem chorar? Secou o rosto com as costas da mão.
– Hoje não – falou baixinho. – chega de lágrimas.
A metallum não estava ali, fechou os olhos, se concentrou, o aparente silencio foi desaparecendo, ouviu a respiração dela, estava dormindo no andar de cima, não tinha pressa em acordá-la.
Ele estava fedendo, e não havia mais caça. Havia um riacho lá perto, se encontrasse algum animal pequeno também poderia garantir comida por mais um dia. Ele prendeu a aljava em suas costas e deixou o arco pender ao lado dela. Se jogou pela janela, se estivesse com o equipamento de escalada poderia chegar no riacho em no máximo cinco minutos. Mas seu equipamento não estava pronto, e ele também não tinha pressa.
Agarrou-se a uma trepadeira e foi descendo até o nível das árvores onde tentou andar sobre alguns galhos de arvores maiores antes de tocar o solo, havia pontos daquela floresta onde as arvores eram tão grandes e tão próximas que ele poderia andar sobre seus galhos sem tocar no chão. Mas aquilo só era possível em alguns pontos, exceções, em geral a mata era composta por árvores de galhos finos, difíceis de se equilibrar e frágeis o suficiente para se quebrarem sob seu peso.
Caminhou pela mata, demorou quase meia hora para chegar ao pequeno rio, deveriam ter cinco metros de uma margem a outra, e a água alcançava seus ombros perto do meio do rio, mas ele poderia ser mais profundo em outros pontos. Antes de entrar na água, rato mijou, urina amarela se diluiu na água barrosa do rio e foi levada pela correnteza. Despiu-se quase por completo, com exceção de um trapo que a muito tempo deixou de ser uma cueca. Tinha medo de que algum peixe abocanhasse sua genitália, ele achava o próprio medo estúpido mas fazer o que? Entrou na água, estava fria mas aquilo já não o incomodava a há alguns anos, o treinamento havia arrancado suas necessidades de água quente e outras regalias em suas primeiras semanas.
“Mas não meu medo idiota” pensou.
O solo sob seus pés era de pedra e terra poderia encontrar algum fragmento de asfalto se procura-se, mas não tinha interesse. Mergulhou e nadou um pouco, um peixe rosou nele, haviam vários pequenos peixes naquele rio e alguns que poderiam dar um bom almoço mas não valiam o esforço de tentar pegá-los. Rato era um bom caçador, mas era um péssimo com peixes, nunca conseguiu predar um e duvidava que fosse conseguir agora.
Saiu do rio cinco minutos depois, não queria demorar muito, se secou com o trapo que era sua camisa antes de colocar a bermuda, a toca havia mandado roupas novas pra ele que logo se tornariam trapos novos, armou-se de novo e começou a trilhar o caminho de volta para as ruína que era sua base. Diversos animais cruzaram o seu caminho, nenhum deles era uma presa ideal, queria algo pequeno, que não fosse um macaco ou um roedor, encontrou sua vitima repousando em uma árvore. Um gavião estava olhando para o horizonte, a uns cem metros de distância.
Rato sacou o arco, encaixou a flecha e puxou a corda. Segurava o arco com a mão esquerda, seu dedo médio cruzou por cima do indicador. Aquele vicio não era dele, ele não fazia aquilo, “Helena” pensou quando notou como estava segurando o arco. O gavião voou, a flecha foi liberada.
O predador do céus passou incólume ao lado do projetil enquanto mergulhava em direção a um pequeno rato que não conseguiu das garras do gavião.
A mão de Rato havia vacilado, foi a primeira flecha que ele errou em dois meses, a primeira que ele erra a luz do dia em dois anos. Resolveu não arriscar a segunda flecha. Voltou para o prédio sem caça.
Estava no segundo andar quando parou, a Metallum havia acordado estava andando pela sala, com sua faca de chifre. Não era uma ameaça, na noite passada ela já teve chances suficientes de matá-lo, que ela brincasse com a faca. Ele entrou no recinto mal humorado, ainda remoía o tiro falho.
– Sua faca é muito estranha, é dura e parece resistente, mas também é áspera e tem essas linhas. Que material é esse?
– Chifre de rinoceronte. Precisamos conversar. – disse ele andando em direção a ela.
– Sobre a minha partida?
– Exatamente, temos que combinar algumas coisas e você precisa saber o que vai me informar. – ele passou por ela e continuou seu caminho até o sofá, sentou-se de modo relaxado ocupando grande parte do móvel.
A garota se sentou sobre a extremidade da grande mesa mais próxima ao sofá, a uns quatro metros de distância.
– Antes de você ir temos que combinar algumas coisas, acho que você já deve fazer uma ideia sobre a maioria delas, mas não custa falar. Primeiro, não me passe nenhuma informação falsa, pode demorar mas nós temos a capacidade de checá-las,se descobrirmos alguma mentira, alguma distorção, por mais leve que seja. Suas amigas vão sofrer. – falou aquilo olhando nos olhos dela, era um blefe, não havia como checar as informações nem torturariam as garotas, mas ela não sabia disso, e ele esperava que aquilo fosse o bastaste para forçar sua honestidade. – Entendido?
– Sim. – ela estava tranquila, Rato interpretou aquilo como um mal sinal, não tinha muita certeza do por que, mas parecia, seria cuidadoso em lidar com ela.
– Segundo, você não conta nada sobre os humanos, se realmente precisar, conte o mínimo possível.
Ela riu.
– Eu não sei nada sobre vocês, mesmo se quisesse contar alguma coisa, o que eu contaria?
A Metallum cravou a faca na mesa e andou a ate ele. Rato permaneceu imóvel mas a adrenalina corri pelo seu corpo, estava naquele momento de calma, onde o predador examina a presa antes do bote, estava pronto para agir, dependendo do que ela fizesse.
– Ontem a noite, antes dormir, eu pensei. – disse ela se sentando no sofá, ao lado dele. – Pensei sobre a minha vida, não tenho motivos pra voltar a cidade, na verdade, minha vida era bem vazia. Só me dei conta disso enquanto refletia sobre esses dias. – ela colocou uma mão em seu ombro, ele refreou o impulso de quebrar o braço dela. – Não tenho mais medo de você, não tanto quanto antes pelo menos. – disse enquanto ele virava a cabeça para encará-la
Como elas eram parecidas. Não era exatamente a aparecia física, e as personalidades eram bem diferentes. Mas Rato enxergou muito de Helena naquela Metallum não sabia o que era, só sabia que havia.
E ele riu.
Riu porque, acima de tudo, aquela cena era um deja vu as avessas, quando ele viveu um momento como aquele, estava no lugar da Metallum. “A vida é cruel” pensou.
– Muito bem, isso não vai mudar nada pra mim. – falou desvencilhando da mão dela. – E se você quiser que suas amigas continuem bem, aconselho você a fazer exatamente o que eu falar.
– Voce tem medo de mim? – ela perguntou
– Claro. – ela ficou surpresa com uma resposta tão objetiva e honesta. – Medo faz parte da vida, tentar esconder ou negar a existência de um medo é enganar a si mesmo, apenas conviva com ele. Posso continuar as instruções?
– Mas eu nem disse se vou voltar pra lá.
– Você vai. – Rato afirmou.
– Sim, eu vou. – ela admitiu olhando para baixo. Exatamente como Helena faria. Ele sabia que ela falaria exatamente daquele jeito emborra não fizesse ideia do como.
– Posso continuar?
– Pode.
– Terceiro, você vem me encontrar aqui daqui duas semanas, venha sozinha. Certifique-se de que não está sendo seguida. Pode fazer isso?
– Sim.
– Ótimo, agora as informações que eu preciso. Primeiramente, eu quero saber da estrutura externa da cidade, como foi construída e a distribuição dos prédios nessa parte afastada. Também quero saber o máximo possível sobre a rotina de vocês. Quero registros escritos.
– Se quiser eu posso falar sobre isso agora.
– E não vai estar nem perto de ter o nível de detalhamento que uma observação estudada teria. É isso, por enquanto. Vou esperar você daqui duas semanas aqui. Entendeu?
– Entendi da primeira vez que falou, não precisa repetir.
– Vai querer voltar pra cidade a pé ou usar aquela prancha?
– Você guardou a minha prancha?
– Está em outro prédio. Me siga.
Ele pegou sua faca e a guiou para fora do edifício e pela floresta. Andaram por três quarterões de floresta, passando por ruínas de prédios e cruzando com alguns animais, inclusive um lobo guará,bem raros naquela região. Rato esfregou a mão na cabeça do animal e escorregou até perto do rabo. Se afastou rapidamente antes que o animal lhe morde-se. Continuaram o caminho até um predio a mito tempo arruinado. O objeto metálico estava escondido embaixo de umas tabuas de madeiras e outros entulhos que Selene fez questão de espalhar quando controlou o metal até a sua mão.
– Tem um dos seus trilhos de metal aqui em cima, você sabe como funcionam melhor que eu.
– Me leva até eles?
– Rato indicou o caminho com um gesto de cabeça e ela o seguiu subindo uma escada desgastada e escura.
– Antes de você ir – disse rato enquanto eles subiam a escada. – Quero fazer uma pergunta.
– Pode perguntar
– O que te move?
– Como assim?
– Por que você vive? O que te impulsiona a continuar, você tem um objetivo, alguma coisa?
Ela não respondeu, devia estar pensando. Rato abriu a porta do último andar revelando que continuava dia. Eles foram até a borda do andar onde a parede a muito tempo caiu, um trilho de metal estava a quase dois metros e meio abaixo deles, um pouco mais. Ela pulou com a chapa sob seus pés e fez uma aterrizagem perfeita no trilho. Rato se sentou na borda do predio.
– Sobre a sua pergunta, eu gostaria que você a respondesse primeiro.
– Vingança e justiça. – ele já havia chegado naquela resposta a muito tempo – Existem muito mais coisas mas essas são as principais. E você?
– Eu não sei, a três dias atrás eu não teria uma resposta, hoje, são minhas amigas. – ela fez uma pausa – Eu descobri que não me conheço como deveria, não conheço o lugar onde nasci e vivi, então eu acho que isso também faz parte. Acho que me descobrir e a segunda coisa que me move nesse momento.
– Então boa sorte Selene, eu estarei te esperando daqui duas semanas. Espero que se conheça melhor quando voltar.
Ela ficou ali, parada. Rato se levantou e virou-se de costas começou a se afastar quando ouviu barulho de metal contra metal. Ele se virou quando o barulho, que durou alguns segundos parou, bem a tempo de vela ir embora.
Ainda não era nem meio dia, voltaria para a sua base, e depois retomaria sua verdadeira missão, interrompida pelas três Metalluns.

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:50 pm

Ana moveu a peça
– Xeque! – falou a palavra em latim, a língua dos humanos.
– Nada mal – respondeu o pequeno marciano mexendo uma peça.
Ele se apresentou como Sagui, aquilo foi há cinco dias, havia feito muitas perguntas sobre a cidade e o dia a dia. Ela tentou ser o mais vaga possível em suas respostas, em contrapartida ele também foi vago quando ela fez perguntas. Aquilo foi quase um jogo, no final do dia ele tinha as respostas que queria e ela acabou descobrindo um pouco mais sobre os humanos. Desde então ele visitava a sua cela todos os dias ensinou um pouco da língua deles, o latim, e aquele jogo humano chamado xadrez. E continuava fazendo perguntas.
– Sua irmã não come carne, isso é algo de vocês ou só dela?
– Ganhe essa partida e eu respondo.
– Tudo bem – disse ele movendo um peão.
– Mas se eu ganhar, você responde uma pergunta. – ela falou enquanto movia a rainha.
– Você não vai ganhar essa partida. – ele falou com um sorriso debochado e ela percebeu o porque do sorriso logo em seguida. Ele comeu a rainha com o cavalo.
Depois desse ponto demorou apenas mais doze jogadas até o Sagui dar o xeque-mate.
– Nós não comemos carne, faz parte da nossa religião.
– Mas você pediu carne no segundo dia aqui.
– Eu não acredito na deusa, além do mais carne é muito bom.
– Pode me contar sobre essa deusa? – perguntou o Sagui enquanto arrumava as peças brancas.
– Só se você ganhar a próxima partida. – disse ela enquanto arrumava as pretas.
Ele começou andando duas casas com o peão do rei. Ela copiou o movimento. Uma risada soou do lado de fora da cela, e depois uma gargalhada.
– Do que eles estão rindo?
– Tão assistindo um filme.
– E o que é um filme?
– Um filme é… – ele sorriu. – vai ter que ganhar de mim se quiser descobrir.
A partida durou cerca de quinze minutos, não sobram peças além dos dois reis.
– E agora?
– Nos empatamos. Você me conta quem é essa deusa e eu te mostro o que é um filme.
– Pensei que vocês, humanos, nos conhecessem melhor. Sabem sobre cada detalhe sobre nosso dom e nada sobre nossa sociedade.
– É porque só temos registros de nossos confrontos, faz quase dois seculos que procriamos e atingimos algo próximo a prosperidade escondidos em nosso próprio planeta. Temos informações de como vocês eram a dois seculos atrás mas nada sobre sua atual sociedade. Em contra partida. – ele deu um sorriso que ela já havia se acostumado, sorria daquele jeito sempre que percebia uma oportunidade no jogo. – O que vocês sabem sobre nós?
– Quase nada. – Ela admitiu com uma cara fechada. – Seu amigo Rato fez questão de provar que tudo o que nos ensinaram sobre vocês é mentira, ou, pelo menos, a maior parte.
– Ele provavelmente fez isso. – fez uma pausa. – Ele contou de como estávamos colonizando Marte antes da guerra o extermínio?
– Contou, também falou dos seus poderes.
– Não era pra ele ter contado sobre eles. – disse ele de cara emburrada tinha alguma coisa estranha na sua expressão, ela não sabia dizer o que era. – Enfim, conte sobre essa sua religião.
– É tanta coisa, não sei por onde começar. É informação demais para apenas uma partida. – ela falou aquilo sorrindo.
A verdade era que eles estavam jogando durante todos os momentos daqueles cinco dias. Cada um tentando obter o máximo possível de informações sobre o povo do outro, eles mascararam aquele jogo com o outro jogo, o Xadrez, mas continuavam o jogo oculto. Não era algo falado, aquilo era um consenso multo estabelecido silenciosamente, estava no comportamento deles. Ele já havia esgotado suas respostas de como era a cidade por dentro e a geração de energia dela. Ainda faltavam muitos assuntos para ele perguntar, o jogo poderia durar mais uma semana, talvez mais. Embora ela não tivesse ideia do que aconteceria quando ele finalmente acabasse.
– Não se preocupe com isso, temos filmes que valem bem mais que religião. Você pode assistir, se colaborar.
Ela poderia tentar barganhar mais, mas ele falou aquilo dê um jeito, com uma convicção que minou aquela vontade.
– É bom que valha.
Então ela contou.
No começo, havia o mundo dos humanos e seu deus, quero dizer o deus de vocês. O ser humano estava destruindo o mundo e se destruindo, a deusa surgiu nesse momento, e disseminou a raça escolhida pelo mundo, em uma tentativa de fazer os humanos conviverem pacificamente com o planeta. Não deu certo.
Os seres humanos logo entraram em guerra contra eles mesmos, vendo isso o deus de vocês, o criador como é chamado na maioria das passagens, retirou a inteligência do ser humano e desapareceu de desgosto. Coube então a raça escolhida reverter os danos causados pelos humanos e tornar o planeta algo próximo aos dias de gloria que viveu com seu criador. A reforma durou quase um século e houveram décadas de paz mas a nossa deusa, que nós também chamamos de reformadora, não estava sozinha. Apesar de deus ter desaparecido seu filho ainda estava presente no mundo, o corruptor se tornou poderoso e corrompeu todos os filhos da nossa deusa Houve então um embate, as filhas da deusa lutaram contra os caídos. Nós vencemos, por pouco. Mas não restaram mais iguais masculinos para perpetuar nossa raça. Nossa deusa então nos concedeu o a capacidade de nos reproduzimos com humanos e permitiu que os usássemos até restabelecermos a raça dos escolhidos.
Mesmo derrotado, o corruptor não desistiu de destruir a nossa raça ele enviou peste, e depois que esta falhou, tentou recriar a raça humana. Mas ele não era igual ao criador, e teve que tentar três vezes. O seu primeiro fracasso foi tentar recriar o homem a partir do barro. Depois fracassou novamente, tentando recuperar o homem a partir da união de dois seres humanos. Só obteve sucesso quando conseguiu corromper uma escolhida, que perdeu seu nome. Usando a criatura corrompida e um homem ele conseguiu criar um ser humano próximo ao que o criador fez. Mas mesmo assim a criatura era diferente, tinha uma natureza cruel e maldosa, eles oram nomeados humanos selvagens.
E de um desses, nasceram vários e mais ainda, até que a raça escolhida estava ameaçada. Em um grande esforço, nossa Deusa mandou uma filha para essa terra, uma filha como nenhuma outra, Luxa, a primeira e única. Ela nos liderou contra o grande mal criado pelo corruptor. Matamos todos eles. Desse momento em diante Luxa intitulou as grandes leis da Deusa. E profetizou o retorno pleno de nossa raça, quando a reformadora despertasse novamente. Ela fez tanto esforço para mandar Luxa para o mundo, que precisou se retirar da existência, isso é algo como um sono profundo, dizem que quando ela retornar, vai estar mais poderosa que o próprio criador, e nossa raça vai receber dons e bençãos nunca antes imaginados.
– Terminou? – perguntou Sagui, havia alguma coisa de estranha no rosto dele.
“Ele está segurando o riso” ela percebeu.
– Pode rir, não acredito na deusa.
Ele deu um riso contido.
– Desculpe, mesmo você não acreditando, ouvir alguém caçoar da sua cultura não deve ser agradável.
– Na verdade, não –ela fez uma pausa, pensando. – Não com isso pelo menos. Agora, eu queria saber o que é esse filme.
– Paciência – disse ele arrumando o tabuleiro. – Eles ainda estão usando o projetor, amanha eu te mostro, se prometer uma coisa.
– Eu confiei em você, quero saber o que é esse filme.
– E eu preciso confiar em você pra te mostrar.
Ela abriu um sorriso, estava jogando com as brancas dessa vez. Moveu o peão do cavalo.
– Eu posso te matar, se esse negócio for feito do que estou pensando.
– E é. – falou movendo o cavalo.
– Mesmo assim vai se expor ao risco? – perguntou intrigada, o outro humano, Rato, nunca faria aquilo ele não arriscaria. Sagui por outro lado agia quase displicentemente.
– Você é esperta demais pra tentar alguma coisa. E se tentasse, não faz ideia de onde estamos.
– Eu consigo me achar.
– Provavelmente, mas não quer arriscar a vida pra tentar sair de uma prisão que está gostando. – ele falou aquilo com uma certeza que a incomodava, quase como se a ofendesse. E a ofendia, porque era verdade.
– Como você pode ter tanta certeza disso? – perguntou em tom de desafio.
– Porque eu também tentei conversar com sua irmã, não foi uma conversa agradável, muito menos longa. Já você, você gosta de conversar comigo, esta aprendendo latim, e larga as crenças de sua sociedade com uma facilidade espantosa.
– É fácil abandonar algo em que nunca acreditou, só me arrependo de me render a carne tão facilmente.
– Por que?
Ana olhou para ele perplexa.
– Você não acha um absurdo criaturas inteligentes como nós comermos algo por ser simplesmente bom?
– Por que seria? Os animais fazem isso o tempo todo, nós também somos animais, comemos, cagamos, transamos, dormimos e morremos. Como qualquer outro animal. Não vou ter pena de uma vaca por ser mais evoluído que ela. – Ele usou algumas palavras em latim, ela não entendeu três ou quatro delas embora tivesse entendido a ideia dele.
– Se eu seguir essa linha de raciocínio, o que me impede de comer ou escravizar seres humanos, afinal, as habilidades da minha raça nos tornam superiores aos humanos na cadeia evolutiva.
– Além de nossa inteligência – ele iria mexer uma peça mas mudou de ideia. – deixe me ver … – ele estava fingindo pensar – que tal, sua consciência? – ele fez uma pausa esperando uma resposta que ela não deu, então, continuou. – Você já matou algum animal com as próprias mãos? Eu já, e cheguei a conclusão que vale a pena. Xeque. – disse mexendo a rainha.
– É uma resposta bem egoísta. – poderia trocar seu cavalo pela rainha, parecia a melhor escolha a se fazer, mexeu a peça.
– Egoísta mas sincera. – ele comeu o cavalo com o bispo, realizando a troca. – O mundo não vai acabar porque eu e a maioria dos humanos mantemos o habito de comer carne. Eu acho que a vida de uma vaca vale menos que a minha. Estou errado?
– Não, acho que não. Também não posso te criticar, afinal também estou comendo carne. – Ela percebeu uma jogada potencialmente promissora, mexeu o bispo. – Xeque
– Bela jogada. – ele moveu o rei pro lado errado, ela precisou de apenas mais duas jogadas para dar o Xeque mate. – Você melhorou bastante. – disse ele se levando, e andando em direção a porta,inseriu uma chave em um pequeno orifício e destrancou a porta. – Volto aqui amanha. Boa noite Ana. – falou antes de sair.
Ana se deitou na cama. Ela sentia falta de poder andar livremente, de deslizar pelos trilhos de aço, de manipular metal. Sentia falta, mas estava gostando da prisão, ela realmente gostava. Não sabia por quanto tempo aquele sentimento iria se manter,provavelmente até as novidades acabarem. Depois disso? Arranjaria um jeito de escapar e voltar para a cidade. Adormeceu pensando em como poderia escapar.

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Metallum Empty Re: Metallum

Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:51 pm

Selene saltou, trocou de trilho no ar com um rápido movimento, manipular metal era tão natural quanto andar ou respirar. Mal passou pelo gigantesco portão de metal e já foi convocada para responder algumas perguntas no pentágono.
O pentágono era o nome de uma estrutura de seis gigantescas torres, cinco delas tinha quase 400 metros de altura eram os vértices que se ligavam por centenas de trilhos de aço, que formavam o pentágono que dava nome a estrutura. No centro do pentágono estava a torre central, mais alta e estreita que as outras, tinha quase 450 metros. Era pra la que foi chamada.
As torres tinham a maior parte de sua estrutura vazia, o proposito delas existirem era simplesmente serem altas, e também, para os jogos. Menos a torre central, aquela torre é o grande templo da Reconstrutora. Nos seus duzentos primeiros andares, esta ilustrada a historia de seu povo até o presente momento, a representação foi feita em Strats ou a arte pura, uma arte que mistura desenho e escultura, utilizando apenas metais. Selene já fez excelentes Strats mas nenhum deles se comparava com os do templo, obras que transcendiam qualquer coisa que ela tenha visto. Bem, qualquer coisa.
Quando entrou no templo daquela vez não pode deixar de comprar os Strats com aquela coisa chamada de filme. Quando uma Metallum deslizava pelo trilho de metal em espiral no centro do edifício as Strats pereciam se mover dando impressão que ela estava assistindo um filme, aquela impressão era única, até alguns dias atrás.
“Eu mudei” ela percebeu. “Não sei o quanto eu mudei, mas mudei.” Deslizou pelo trilho rapidamente, em uma velocidade bem acima do ideal para apreciar os Strats. A espiral acabou no segundo andar, que consistia em uma sala vazia com diversos trilhos cujo o destino eram vários pontos na extremidade da parede onde os trilhos ascendiam em espirais para o próximo andar. Selene trocou de trilho e subiu para o próximo andar, onde havia um altar no centro do andar, ela não perdeu tempo admirando-o apenas subiu pelos andares assentos até chegar no topo do templo onde vivia a sacerdotisa.
Ela foi recebida por uma acolita em uma sala pequena onde acabava o trilho, ninguém nunca havia visto o andar da sacerdotisa por completo, as acolitas do templo tem cesso a algumas partes daquele andar, acesso que terminava nos portões de ouro do quarto da sacerdotisa. O que residia além daquelas portas era um mistério para todos os habitantes da cidade.
A acolita a guiou pelo andar que, diferente dos outros, tinha corredores e paredes. Mandaram ela esperar em uma outra sala pequena de paredes brancas, sem vidros, com uma mesa de metal, provavelmente alumínio, e duas cadeiras simples estofadas com almofadas de algodão. Havia uma porta no final outro lado da sala, Selene se sentou na cadeira de frente pra ela e esperou.
Levaram quinze minutos até a porta ser aberta, normalmente Selene ficaria enraivecida com a demora mas os dias de carcere a tornou bem mais paciente, quase não percebeu o tempo passando.
A sacerdotisa entrou no aposento, usava um vestido dourado, seu rosto estava coberto por um véu de tecido semelhante também dourado. Ela não era alta, tinha cerca de 1,65metros. Ninguém nunca viu seu rosto e nunca veria, as Sacerdotisas vinham da grande cidade central, onde acolitas, indicadas por outras sacerdotisas, eram iniciadas nos mistérios avançados da fé, onde aprendiam coisas e desenvolviam habilidades que permaneciam um mistério para a população. Embora algumas habilidades adquiridas,como manipular ouro, sejam de conhecidas. Depois de formadas sacerdotisas, elas eram enviadas para outras cidades para ministrar a fé. Sempre de véu, ninguém nunca viu a face de uma sacerdotisa, e nunca verá.
– Ficamos preocupadas com você. – essa era uma outra curiosidade sobre as sacerdotisas, elas sempre se referiam a elas na primeira pessoa do plural. A voz dela também não indicava nenhum traço de emoção. – Eram um trio quando saíram a quatro dias, onde estão as outras duas garotas?
A voz de Rato ressoou em sua cabeça “conte o mínimo possível”. “Vou contar”, ela já havia criado uma historia no caminho de volta.
– Há quatro dias, nós encontramos um humano, um humano selvagem. Ele se assustou quando nos viu mas nós o seguimos mesmo assim. Foram três dias tentando encontrá-lo novamente. Na noite do terceiro dia eu resolvi voltar. Então na manha do quarto dia eu fui embora enquanto as duas ainda estão caçando o humano. Elas devem voltar logo. Estávamos bem perto naquela noite, embora talvez leve mais alguns dias.
– Um humano você disse.
– Eu sei que parece um absurdo mas é verdade, não conseguimos chegar muito perto mas ele parece ser inteligente, nos ficamos com a impressão que ele tentava esconder seus rastros, é estranho eu sei, mas é verdade. – ela falava aquilo enquanto se lembrava do momento que foi capturada, ela lembrava do desespero que sentiu, e tentava transmiti-lo em suas palavras, desespero de que ela acreditasse que aquela era a verdade.
– Acredito em você – ela falou com aquela voz sem expressão. Não havia a mínima pista que revelasse sua real opinião. – Deve estar cansada da viagem, pode voltar para a sua casa, preciso meditar sobre o seu relato. A chamarei novamente, caso precise de esclarecimento sobre mais detalhes. – Pode ir.
Ela se levantou e se virou, saiu pela mesma porta que entrou e quando esta se fechou com um baque surdo Selene respirou aliviada. Naquele momento constatou que tinha mais medo da sacerdotisa que do próprio Rato.
Já se passaram quatro dias desde que foi chamada ao templo, parecia que sua mentira foi convincente. Agora ela deslizava por um trilho para os limites da cidade, estava na hora de começar a trabalhar na destruição de sua própria cidade. O que, para sua surpresa, não significava muita coisa. Em suas costas, estava uma mochila que continha um pequeno pote de limalha de ferro e quatro tabuletas de madeira com uma grossura de aproximadamente dois centímetros de dimensões semelhantes a uma folha A5, embora ela não fizesse ideia do que fosse uma folha A5.
As Metalluns não tinham o habito de manter registros físicos. A maioria de suas informações era armazenada virtualmente, em servidores. Elas usavam uma tecnologia humana antiga, chamada de internet. Embora seu uso seja muito limitado se comparada com o que os humanos de antigamente poderiam fazer. A verdade era que as Metalluns ainda estavam reaprendendo a usar aquela tecnologia. A maioria dos registros de conhecimentos humanos desapareceu junto com a sua suposta extinção, só lhe restavam fragmentos dessa época, e os equipamentos deles eram tão sofisticados que não era possível reproduzi-los sendo necessário adaptá-los, adaptações que normalmente eram bem maiores e pesadas que a tecnologia ancestral.
Ela saltou de um trilho de ferro para um de aço, ganhando velocidade, subiu por um outro trilho até uma torre jardim. Aquele seria um bom lugar, podia ver a muralha externa dali sem estar muito perto dela. Se sentou embaixo de uma árvore e retirou uma das tábuas com o potinho de limalha. Havia almoçado antes de ir pra lá, estava sentindo falta do gosto de carne mas aquilo não era nada demais. Olhou para o horizonte, os humanos não tinham ideia de como era por dentro da muralha, um mapa da cidade poderia ser útil e ela poderia conseguir um deles sem se arriscar, usando apenas a internet as plantas da cidade eram de conhecimento comum, a rotina geral também não era nenhum mistério, as próximas coisas que Rato peça sejam mais complicadas, mas aquela semana seria bem fácil.
Controlou a limalha, por mais que a representação que fizesse agora fosse inútil comparado com o que ainda reuniria, ela estava com vontade de desenhar alguma coisa. Começou a espalhá-la pela superfície de madeira e foi moldando os prédios a sua frente de modo que houvesse a sensação de profundidade. Fazia tempo que ela não fazia um desenho e mais tempo ainda que ela não tentava representar algo tão difícil já que os prédios daquela região diminuíam até chegar na muralha, que tinha, pelo menos, o dobro do tamanho deles.
Quando ficou satisfeita com a imagem desenhada começou a forçar a limalha contra a madeira. Aquele era um processo demorado isso porque a madeira deveria ser golpeada sempre no mesmo ponto sem a limalha se mexer muito, o que causaria distorções no desenho.
Já havia perfurado quase dois milímetros de madeira quando ouviu um barulho de metal raspando em metal atrás dela. Alguém chegou naquele prédio jardim. Os passos vieram em sua direção.
– Selene? – era uma voz familiar, de sua única amiga na cidade.
– Oi Zyra, chegou a muito tempo?
Ela não se virou, tentou se lembrar do rosto da amiga antes de vê-lo, ruiva, pálida, muitas sardas e um semblante amigável, Ela se virou, a imagem que projetou em sua mente era quase igual a que via em a sua frente. Queria contar amiga tudo o que aconteceu, queria pedir a sua opinião, talvez até ajuda mas conteve o impulso.
– Acabei de chegar, me disseram que você e as gêmeas encontraram um humano.
– É, encontramos. Elas ainda estão atrás dele.
– E o que aconteceu pra você voltar?
– Bem. – ela fez uma pausa, já havia pensado naquilo. – Nós tivemos uma briga.
– Serio? Mas vocês eram tão, sei lá.
– Zy. – cortou Selene. – Não quero falar sobre isso, foi uma briga feia. – “E você saberia que estou mentindo se continuar falando” pensou.
– Tá bom. Desculpe. – ela se aproximou. – Posso ver? – ela aponto pra tábua de madeira na mão de Selene.
– Ah, isso. Pode ver. – disse ela entregando a tabua, grata por não ter escrito nada no desenho.
– Você deveria expor isso em algum lugar, é muito bom.
– Mas não é um Strats .
– É, não é um Strats, mas é tão bom quanto. Por que você tá com essa cara. – Selena não sabia como estava mas supos que não era das melhores
– Estou preocupada com elas. – o que era verdade, embora a situação que sua amiga imaginaria era bem diferente da real. – Nos fomos muito longe, e se acontecer alguma coisa com elas porque eu não estava lá?
– O que poderia acontecer? Não se preocupe atoa.
– Você tem razão. Como foi de viagem?
– O de sempre, alguns trilhos com mal funcionamento, só tive que fazer uns reparos básicos. – Zyra fazia parte de um grupo especializado em concertos de trilhos o que era raro em muitas cidades pequenas, sendo comum ela viajar durante alguns dias para concertar algum trilho.
Ficaram em silêncio por um tempo. Zyra passou a chapa de madeira para Selene que voltou a perfura-la com a limalha.
– Como é o lado de fora?
– Você viaja o tempo todo, não sabe como é? – perguntou Selene surpresa.
– Eu só viajo pelos trilhos, vocês ficaram fora fora por dias, com certeza saíram dos trilhos.
– Sim saímos.
– E então?
– Não tem muita coisa, ruínas humanas e a floresta a nível do solo.
– Como são as ruínas?
– Você nunca entrou em uma?
– É claro que sim, mas elas são diferentes dependendo de onde você vai.
– Bem, pra mim eram só ruínas.
Ficaram ali, conversando até o pôr do sol. Uma conversa normal, uma conversa estranha. A normalidade se tornou o anormal depois daqueles dias de carcere. Quando voltou para casa estava chorando.
Era o medo por suas amigas, a constatação de que não se importava com a cidade, o medo de Rato, o medo da sacerdotisa , duvidas sobre o mundo humano, duvidas sobre a sua história, a deles e a de seu povo. Dúvidas sobre ela.
Tinha medo do futuro imprevisível que a aguardava.

Fenrir

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Mensagem por Fenrir Seg Abr 21, 2014 4:53 pm

É isso, é minha primeira postagem então já peço desculpas adiantadas caso tenha quebrado alguma regra. Critiquem e opinem por favor.

Fenrir

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